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Em transição
Crise na Geórgia expõe limite da reação ocidental e evidencia necessidade de adaptar a diplomacia
a uma nova realidade
A RÚSSIA , como era previsto, não se contentou
em dar notícia de sua
reafirmação geopolítica com a operação militar na
Geórgia. O Kremlin põe-se agora
a redesenhar o mapa do Cáucaso
de acordo com seus interesses.
O reconhecimento russo da independência das Províncias
georgianas rebeldes da Ossétia
do Sul e da Abkházia, ambas de
maioria pró-Moscou, torna improvável que as fronteiras na região retornem ao status quo anterior à crise. A Rússia afirma ao
mundo que eventual tentativa de
promover a reintegração territorial da Geórgia poderia detonar
um conflito entre as duas maiores potências nucleares.
Não foi despropositada, assim,
a menção do presidente russo,
Dmitri Medvedev, a uma "nova
Guerra Fria". Ele aposta em um
cálculo frio das potências ocidentais: o socorro à Geórgia não
compensa todos os riscos associados a um choque frontal com
a Rússia. E não se trata apenas de
um raciocínio militar.
A realidade européia difere da
que prevalecia na época do conflito entre dois blocos estanques,
o capitalista e o socialista. Após a
ruína da URSS a interdependência se impôs, e coube à Rússia o
papel de fornecedor-chave de
energia para as principais economias da Europa. Os próprios
americanos não têm interesse
em queimar pontes com o Kremlin, importante para lidar com
questões delicadas para Washington, como a ascensão do Irã.
Defender até as últimas conseqüências a causa da Geórgia, ademais, fica mais difícil quando se
sabe que coube ao presidente
georgiano, Mikhail Saakashvilli,
a provocação militar que deu início e pretexto à maciça reação
russa. Tampouco cai bem no governo de George W. Bush o figurino de defensor intransigente
da integridade territorial alheia.
A contenção do neo-expansionismo russo, portanto, vai depender de uma reorientação dos
grandes vetores da diplomacia
internacional, a fim de que se
adaptem aos novos tempos. Se a
dialética mecânica da Guerra
Fria está há muito enterrada, a
crise na Geórgia é mais uma evidência do estreitamento da margem de manobra dos EUA -que
parecia não encontrar limites
após a queda do Muro de Berlim.
Por coincidência, essa transição por que passam as regras do
jogo internacional encontra os
Estados Unidos em plena campanha presidencial. Se tiverem
captado a nova realidade, tanto
John McCain como Barack Obama entenderão que precisam virar a página da política externa
comandada, durante oito anos,
por George W. Bush.
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