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O ANO ECONÔMICO
Para a economia brasileira,
2003 começou sob o signo da
apreensão e da incerteza. Agora que
o ano chega ao fim, difunde-se a impressão de que o pior já passou
-embora ainda não haja maior segurança a respeito do fôlego e da capacidade de sustentação da retomada que começou timidamente a se
esboçar nos últimos meses.
O discurso oficial enfatiza, naturalmente, aquilo que caracteriza como
conquistas da política econômica.
Destaca a forte desaceleração da inflação, o recuo expressivo da cotação
do dólar, o elevado superávit comercial, a queda do risco-país para o nível mais baixo em cinco anos e a freada na expansão da dívida pública.
É evidente, no entanto, que o desempenho econômico não foi marcado em 2003 apenas por esses aspectos. A política monetária implementada trouxe graves consequências para o setor produtivo, ao mesmo tempo em que proporcionou ganhos expressivos ao sistema financeiro -justamente o oposto do que
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
sinalizara quando candidato.
Mesmo inevitável, o ajuste assumiu
feições marcadamente conservadoras. Esperava-se um crescimento do
Produto Interno Bruto ao menos
próximo do ritmo pífio dos anos anteriores (da ordem de 1,5%), o que se
sabe que não ocorrerá. Os juros nas
operações de crédito atingiram valores extremamente elevados, o mercado de trabalho foi duramente castigado e o poder de compra dos trabalhadores sofreu desgaste ainda mais
severo do que nos anos anteriores.
Não se deve esquecer que os bons
resultados exibidos pelo governo estiveram associados a um cenário externo providencialmente favorável.
Superando o trauma das grandes
fraudes contábeis de 2002 e os receios quanto aos impactos da Guerra
do Iraque, a economia global acelerou seu ritmo de crescimento. O otimismo daí resultante contribuiu para que a aversão ao risco a países
emergentes recuasse fortemente. A
melhora das contas externas do Brasil viu-se facilitada por esse ambiente
-caracterizado ainda por baixos juros nas principais economias e aumento da liquidez internacional.
Com relação às opções de gestão
da economia, elas constituíram uma
surpresa para boa parte dos analistas. O presidente Lula se elegeu prometendo introduzir mudanças de
porte nas diretrizes da política econômica, mas até aqui o que se observou foi essencialmente a continuidade -em certos aspectos, com inclinações mais ortodoxas- das principais linhas seguidas pela equipe da
administração anterior.
A despeito disso, o governo continuou a bater retoricamente na tecla
das mudanças. No período final do
ano apresentou propostas, algumas
apenas embrionárias, relativas a políticas industriais, parcerias em projetos de investimento entre os setores
público e privado e regulação da área
de infra-estrutura. Considerando,
porém, o contraste observado entre o
discurso de campanha e as ações
desde então praticadas, as intenções
recém-anunciadas devem ser vistas
com cautela. Será preciso esperar
2004 para que se possa ter uma visão
mais consistente dos caminhos que
o governo -e a economia do país-
efetivamente irão seguir.
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