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A POLÍTICA DE MASCATES
O promissor resultado da balança comercial brasileira, que
deverá fechar o ano com superávit
em torno de US$ 26 bilhões, melhorando significativamente uma tendência já delineada em 2002, é fruto
de uma série de fatores. Além da própria contração da demanda doméstica, num cenário de baixíssimo dinamismo, o crescimento da economia
chinesa, a reativação norte-americana, a valorização do euro e a retomada das importações argentinas contribuíram para sustentar os preços e
expandir as vendas externas.
Foi especialmente notável para a
formação do elevado superávit o desempenho do agronegócio, que se
beneficiou não apenas da valorização das commodities nos mercados
internacionais, mas também de convincentes ganhos de produtividade.
Quanto à atuação governamental,
houve um esforço para focalizar a
política externa em objetivos comerciais. Foi essa a principal preocupação do Itamaraty, que contou com o
suporte dos ministros do Desenvolvimento e da Agricultura -formando-se uma trinca de "mascates", como definiu recentemente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anexando
uma nova imagem à sua já rica coleção de "metáforas".
Em 2004, porém, a perspectiva de
reaquecimento da economia, além
de outros aspectos internos e externos, tende a impor novos limites ao
saldo comercial. As projeções, embora em geral favoráveis, são de um
resultado inferior ao obtido neste
ano. Nesse sentido, são positivas as
declarações do diretor da área de
promoção comercial do Ministério
das Relações Exteriores, o embaixador Mario Vilalva.
Em entrevista ao jornal "Valor Econômico", Vilalva anunciou que a política do ministério deverá enfatizar a
busca de alternativas aos mercados
tradicionais -basicamente Estados
Unidos, União Européia e América
Latina, responsáveis por cerca de
75% do comércio brasileiro. Depois
da recente incursão ao Oriente Médio, o presidente Lula visitará no primeiro semestre a China, gigante
emergente com o qual o Brasil poderá abrir novas frentes de negócios.
Igualmente relevantes são países
como Índia e Rússia, que podem oferecer boas perspectivas para as exportações. Aumentar o volume de
comércio e continuar obtendo superávits elevados são metas essenciais
para o futuro da economia brasileira.
Seria desejável, no entanto, que o
governo voltasse suas atenções também para a sofisticação da pauta de
exportações -e que as oportunidades externas para os setores industriais encontrassem maior espaço na
agenda da política externa.
É preciso agregar valor às exportações agrícolas, avançando na formação de uma agroindústria capacitada
a exportar não apenas grãos, mas
produtos elaborados. No mesmo
sentido, o complexo industrial ainda
está à espera das prometidas políticas de incentivo à competitividade e à
substituição de importações, algo
que as autoridades governamentais
ficaram devendo em 2003.
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