UOL




São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

Os homens do ano

RIO DE JANEIRO - Uma revista dos Estados Unidos costuma dar em sua capa, na edição de dezembro, a personalidade que seus editores consideraram o homem do ano. A galeria é ilustre e, entre mortos e feridos, a escolha costuma ser aprovada pela opinião pública mundial.
Neste ano, a homenagem recaiu sobre os soldados norte-americanos, louvação genérica aos bravos rapazes que foram lutar, matar e morrer no Afeganistão e no Iraque.
Louva-se a escolha. Foram jovens que cumpriram sua missão e, desde que mundo é mundo, houve matanças por causas boas e más, geralmente más. O sacrifício dos heróis merece reconhecimento, mas daí a considerá-los os personagens mais importantes do ano vai uma distância -e termina numa bobagem.
A distância é que a causa defendida (ou agredida) por esses rapazes foi macetada por políticos nada recomendáveis, que, sob o pretexto de o Iraque manter um arsenal destruidor da humanidade, puseram-se em posição mais que estratégica na região mais rica em petróleo no mundo.
A bobagem é que os soldados não fazem mais do que sua obrigação ao matar ou morrer cumprindo a ordem de seus superiores. Caso contrário, seriam julgados desertores ou traidores e, conforme o caso, alguns deles seriam executados por decisão de cortes marciais. E os heróis são suficientemente medalhados.
Lixeiros, engraxates, contínuos, serventes, faxineiros, as classes mais humildes da pirâmide funcional também cumprem sua obrigação, e a roda social, bem ou mal, rola para a frente, embora para trás em alguns momentos da história.
Os soldados, norte-americanos ou não, já recebem a homenagem tradicional dos monumentos dedicados ao Soldado Desconhecido, esse sim herói e vítima de uma engrenagem que todos sabemos injusta. Uma engrenagem demente, que até hoje a humanidade não conseguiu abolir. E às vezes, como no caso do ano que acaba, chega a exaltar.


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Coitado do Genoino
Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: 2004: educação, o fator decisivo
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.