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CARLOS HEITOR CONY
Os homens do ano
RIO DE JANEIRO - Uma revista dos Estados Unidos costuma dar em sua
capa, na edição de dezembro, a personalidade que seus editores consideraram o homem do ano. A galeria é
ilustre e, entre mortos e feridos, a escolha costuma ser aprovada pela opinião pública mundial.
Neste ano, a homenagem recaiu sobre os soldados norte-americanos,
louvação genérica aos bravos rapazes
que foram lutar, matar e morrer no
Afeganistão e no Iraque.
Louva-se a escolha. Foram jovens
que cumpriram sua missão e, desde
que mundo é mundo, houve matanças por causas boas e más, geralmente más. O sacrifício dos heróis merece
reconhecimento, mas daí a considerá-los os personagens mais importantes do ano vai uma distância -e
termina numa bobagem.
A distância é que a causa defendida
(ou agredida) por esses rapazes foi
macetada por políticos nada recomendáveis, que, sob o pretexto de o
Iraque manter um arsenal destruidor
da humanidade, puseram-se em posição mais que estratégica na região
mais rica em petróleo no mundo.
A bobagem é que os soldados não
fazem mais do que sua obrigação ao
matar ou morrer cumprindo a ordem de seus superiores. Caso contrário, seriam julgados desertores ou
traidores e, conforme o caso, alguns
deles seriam executados por decisão
de cortes marciais. E os heróis são suficientemente medalhados.
Lixeiros, engraxates, contínuos, serventes, faxineiros, as classes mais humildes da pirâmide funcional também cumprem sua obrigação, e a roda social, bem ou mal, rola para a
frente, embora para trás em alguns
momentos da história.
Os soldados, norte-americanos ou
não, já recebem a homenagem tradicional dos monumentos dedicados
ao Soldado Desconhecido, esse sim
herói e vítima de uma engrenagem
que todos sabemos injusta. Uma engrenagem demente, que até hoje a
humanidade não conseguiu abolir. E
às vezes, como no caso do ano que
acaba, chega a exaltar.
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