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Menos crescimento
A escalada dos preços dos bens primários poderá provocar uma redução mais intensa e longa do crescimento global
O MOVIMENTO de alta dos
preços internacionais
dos produtos primários prosseguiu nas últimas semanas, agravando as
pressões sobre a inflação em todo o globo. A cotação do petróleo
chegou à vizinhança de US$ 140
por barril. Foram anunciados
novos aumentos pronunciados
de insumos, com destaque para o
minério de ferro. E as cotações
de vários alimentos -sob o impacto, entre outros fatores, das
enchentes em importantes regiões produtoras dos EUA- voltaram a repicar com força.
Continua intenso, e inconclusivo, o debate acerca das forças
que têm impulsionado esse movimento febril dos preços dos
produtos primários. Alguns enfatizam o aumento da demanda,
outros o nível reduzido dos estoques e perturbações que prejudicam a oferta de vários produtos.
E uma proporção crescente dos
analistas vê a influência da busca, por parte de grandes investidores, de alternativas de aplicação financeira ante o enfraquecimento do dólar e o nível reduzido dos juros básicos dos EUA.
Independentemente de suas
causas efetivas -que muito provavelmente abarcam doses variadas dos fatores citados-, a nova rodada de alta das cotações
das principais commodities provocou uma piora adicional das
perspectivas para a inflação. E isso vem resultando numa percepção cada vez mais difundida de
que, em nível global, o crescimento da atividade econômica
deverá desacelerar de maneira
mais intensa, e talvez por um período mais prolongado, do que
até há pouco se esperava.
Os bancos centrais dos países
emergentes já há algum tempo
vêm aumentando suas taxas de
juros visando a moderar a inflação. O Banco Central Europeu dá
mostras de que cogita segui-los,
talvez logo. A autoridade monetária que mais reluta em pisar no
freio é, compreensivelmente, a
dos Estados Unidos.
Até o final de abril o Federal
Reserve (Fed) vinha promovendo sucessivos cortes agressivos
de juros para amenizar a crise no
mercado de hipotecas de alto risco e a fragilização dos bancos e
seguradoras a ela associada. Em
sua reunião de quarta-feira passada, o Fed, reconhecendo o
agravamento dos riscos pelo lado
da inflação, interrompeu os cortes. Mas, constrangido pelo receio de reacender as desconfianças quanto à solidez dos bancos,
ele evitou sinalizar que pretende
aumentar os juros em breve.
A redução do raio de manobra
das autoridades econômicas dos
EUA é evidente. Mas, no Brasil,
em comparação a um passado relativamente recente, observa-se
o inverso. A redução da vulnerabilidade das contas externas tem
permitido ao país enfrentar as
novas intempéries globais sem
sobressaltos dramáticos. Mesmo
que essas intempéries se prolonguem, cabe esperar uma moderação, mas não uma interrupção,
do crescimento.
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