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CARLOS HEITOR CONY
Do tamanho dos hinos
RIO DE JANEIRO - Quando não
tinha assunto para um artigo dos
muitos que escrevia para diversos
jornais portugueses e brasileiros,
Eça de Queiroz esculhambava o bei
de Túnis, personagem mais ou menos imaginário ao qual ele atribuía
malfeitos e incompetência. Conheci um famoso jornalista da imprensa carioca que, na mesma situação
(sem um assunto específico), fazia
veementes editoriais exigindo novo
hino nacional para o Brasil.
Não é que me falte assunto, mas,
se nada tenho contra o bei de Túnis,
tenho um terror moderado quando,
em eventuais cerimônias que contam com minha desnecessária presença, o programa estabelece o canto do nosso belo hino para início
dos trabalhos.
Não que seja um hino feio, pelo
contrário, a música é bonita, embora um pouco bombástica, dá impressão de alguma coisa parecida
com a queda do Império Romano,
anúncio de um cataclisma universal. A letra é discutida, há quem goste e há quem deteste, fico no meio
termo, acho que poderia ser melhor
ou pior.
Fiquei sabendo nesta semana
que o poeta Reynaldo Jardim fez letra para um novo hino, com música
moderníssima de J. Antunes. Ouvi
e gostei, mas não a ponto de substituir oficialmente o atual, cujo principal defeito é o tamanho, sobretudo quando cantado nas duas partes.
Agora mesmo, por ocasião da visita do príncipe japonês, ouviram-se os dois hinos, um deles curto como o território do Japão, outro
imenso como o próprio Brasil. Autoridades estrangeiras, não familiarizadas com as duas partes, sentaram-se ao fim da primeira e tiveram
de se levantar, constrangidos, para
ouvir o resto.
Em tempo: Puccini usou trechos
melódicos do hino japonês como
"leitmotiv" de sua "Madama Butterfly", o mesmo fazendo com o
também curto hino norte-americano.
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