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CLAUDIA ANTUNES
De Carter
a Obama
NOS ESTADOS UNIDOS , como em toda parte, o mundo
dos formuladores de políticas públicas é uma província. Por
isso não chegou a surpreender que,
sagrado o candidato democrata,
Barack Obama tenha anunciado
que passaria a ser assessorado por
gente que serviu a Bill Clinton.
Na economia, o convidado foi Jason Furman, assessor júnior na
época de Clinton e pupilo do ex-secretário do Tesouro Robert Rubin,
hoje no Citigroup. Na política externa, quem encima a lista é a ex-secretária de Estado Madeleine Albright. São nomes que marcaram o
período pós-Guerra Fria.
Rubin foi um impulsionador da
desregulamentação financeira global. Nos EUA, abençoou o enterro
da Glass-Steagall, lei antiespeculação dos anos 30 que limitava a
atuação de grupos de investimento
no varejo bancário. Nas primárias
contra Hillary, Obama apontou o
fim da lei como uma das origens da
bolha das hipotecas de alto risco.
Albright demonstrou, à frente da
Secretaria de Estado, pendor à soberba que depois seria a marca do
primeiro mandato de George W.
Bush. Ficou famosa a frase de um
diálogo que travou no início dos
anos 90 com Colin Powell, então
chefe das Forças Armadas: "Qual é
o sentido de ter um Exército fenomenal se não podemos usá-lo?".
Para quem comandou aquele período benfazejo aos EUA, a "guerra
ao terror" e a invasão do Iraque são
hoje consideradas desvios irracionais. Polida desses excessos - "não
se pode ir à guerra contra um método", ironizou outro ideólogo democrata, Zibgniew Brzezinski-, a
liderança internacional do país
voltaria ao curso de antes.
Essa é a esperança dos formuladores do Partido Democrata -que,
aliás, não seria contraditória com
os diagnósticos sobre a "era da não-polaridade", uma vez que nela os
EUA manteriam seu peso absoluto,
mesmo perdendo poder relativo.
Para isso, duas tarefas seriam urgentes. A primeira, equacionar melhor a relação simbiótica com a
China, no momento em que a desvalorização do dólar e o aumento
da demanda da potência asiática
por matérias-primas formam uma
mistura explosiva. A segunda, estabelecer uma convivência menos
belicosa com o Irã e suas reservas
de gás e petróleo.
Não são desafios pequenos. E é
bom ter em mente, caso Obama seja eleito, que nada apavora mais
um democrata do que ser comparado a Jimmy Carter. Ao assumir
em meio à crise do petróleo dos
anos 70, ele foi à TV pedir que os
americanos usassem "transporte
solidário" e reduzissem a temperatura do aquecedor. Depois da Revolução Islâmica iraniana, abriu o
último ano de mandato enunciando a "Doutrina Carter", pela qual
os EUA se reservam o direito de intervir no golfo Pérsico para garantir o suprimento de combustível.
CLAUDIA ANTUNES é editora de Mundo .
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