|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARCOS NOBRE
Obama
MULTIDÕES EM TRANSE
por Obama. E a cobertura
e as análises da mídia dizem: calma. O candidato democrata leva 200 mil pessoas para a rua
na Alemanha (!). E os comentários
dizem: isso pode prejudicá-lo.
Parece que está mesmo difícil
aceitar a novidade. Depois da devastação conservadora, espalhou-se a sensação de que nada pode
mesmo mudar muito, que política
é o tédio e os cambalachos de sempre, que democracia é simplesmente a vitória do dinheiro e dos
interesses. A candidatura de Obama mostra que o jogo não está jogado. E não só nos EUA.
O que Obama provocou vai muito além de uma candidatura presidencial. É a canalização de energias
de transformação que pareciam
perdidas.
Se for mesmo eleito, Obama não
poderá jamais corresponder a essas expectativas. Mas, na situação
atual, o mais importante, em primeiro lugar, é impor uma derrota
ao conservadorismo. E, mais que
isso, reabrir espaços de discussão e
convivência democráticos que ficaram fechados por muito tempo.
Obama sabe bem aproveitar toda
essa energia. Tenta colar sua imagem à de Kennedy, usando o paletó
pendurado no ombro e discursando em Berlim. Parece o presidente
negro daquele filme-catástrofe de
Hollywood.
Ao mesmo tempo, o profissionalismo de sua equipe conta com os
quadros mais experientes da campanha de Hillary Clinton e do próprio governo Bill Clinton. Diz-se
que sua comitiva na visita ao Iraque contava pelo menos 20 carros.
O seu discurso é vago e genérico?
Sem dúvida. Como presidente, terá
de fazer composições políticas que
vão frear muito desse movimento
de renovação? Com certeza. Mas o
que parece mais estranho é o esforço para conter as expectativas desde já, como uma preparação para a
decepção que virá. A idéia é que
muita mobilização vai acabar por
produzir uma imagem de arrogância e desprezo pelos EUA, colocando em risco sua eleição.
Para quem não tem qualquer
simpatia por Obama, essa é uma
maneira sutil de miná-lo sem ter de
mostrar sua posição. Procura reforçar a sensação de arrogância ao
tratá-lo já como presidente e não
como um candidato em início de
campanha.
Algo parecido acontece quando
se diz que um governo republicano
é melhor para os interesses brasileiros porque menos protecionista.
Como se o Brasil se reduzisse simplesmente aos interesses das empresas instaladas aqui.
Quem tem simpatia pela candidatura deveria pensar antes que o
melhor de Obama é o que ele produziu. E que ganhar a eleição é de
fato decisivo. Mas não mais importante do que ver as pessoas na rua
mostrando sua cara.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: "Caso de matraca" Próximo Texto: Frases
Índice
|