São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Muitas e fortes emoções

SÃO PAULO - A idéia original pertence a Vinicius Mota, editor de Opinião desta Folha: a esquerda jamais venceu uma eleição em 500 e poucos anos de Brasil e, justo na iminência de fazê-lo, corre o risco de pegar um abacaxi também provavelmente inédito em 500 anos de História.
É esse o cenário desenhado de um lado pela pesquisa Datafolha, cujos números principais o leitor já viu na capa do jornal de hoje, e, de outro, pela semana de enorme agitação nos mercados, que levou o dólar a um novo recorde, próximo a R$ 4.
Aplicada a margem de erro, Luiz Inácio Lula da Silva pode eleger-se já no dia 6, dispensando o segundo turno. Como só há sete dias para evitar esse resultado, é razoável imaginar duas situações concomitantes:
1 - Todos os tiros remanescentes terão de ser disparados contra o líder nas pesquisas. Suspeito que todas as considerações de marqueteiros, de assessores, de candidatos etc. serão postas de lado em nome do "perdido por perdido, truco".
2 - Como é pouco razoável supor que Lula caia nas pesquisas a serem eventualmente divulgadas no início da semana, o mercado reagirá com nervosismo ainda maior à perspectiva de vê-lo eleito já. Continuará pois exibindo a "ganância infecciosa" nele apontada por Pedro Malan, uma descoberta, aliás, feita com atraso de pelo menos um século.
Será pois uma semana infernal. Pena que não seja torneio de futebol, em que, depois da ansiedade, se chora ou se ri, mas tudo acaba. Na eleição, o diabo é que os brasileiros, pelo menos os brasileiros plugados nela, não conseguirão descansar depois.
Ou haverá segundo turno e, por extensão, novas rodadas de nervosismo, ou Lula estará eleito e serão três meses de eletricidade intensa entre a vitória e a posse.
Não sei se é bom ou ruim viver no Brasil, mas de tédio não se morre.


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