São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Futuro à vista

O Brasil exibe um espetacular avanço do agronegócio. São números alentadores para a balança comercial, para a economia e para o emprego.
No ano 2000, o setor representou cerca de 35% das exportações brasileiras. Nele foram produzidos R$ 330 bilhões e garantidos 37% dos empregos (Abag, "Agribusiness Brasileiro", São Paulo, Associação Brasileira de Agribusiness, 2002).
O desempenho recente é ainda mais impressionante. No primeiro semestre de 2002, o agronegócio cresceu 8,3%, contrastando com a queda de 0,1% na indústria de transformação. Até o fim do ano, o setor proporcionará um superávit comercial de US$ 21 bilhões -quase três vezes o superávit de toda a balança comercial, estimado em US$ 8 bilhões. Sem isso, o Brasil amargaria cerca de US$ 14 bilhões de déficit.
O termo "agronegócio" foi cunhado no final da década de 50 pelo professor Ray Goldberg, da Universidade Harvard, para definir uma longa e entrelaçada cadeia de empresas e instituições, que vai desde os produtores de insumos (sementes, fertilizantes e maquinário) até os processadores de alimentos, os grandes distribuidores e os pequenos varejistas. Naquele tempo, o PIB mundial do agronegócio era de US$ 420 bilhões. Daqui a 25 anos, para nossa surpresa, serão US$ 10 trilhões! ("Agriculture and Technology", in "The Economist", 25/3/2000).
É verdade que o crescimento fantástico da agropecuária foi feito com a substituição do trabalho humano pelo trabalho das máquinas e com as inovações químicas e biológicas. Mas essa visão é superficial. Como diz o professor José Eli da Veiga, da Universidade de São Paulo, as novas tecnologias destroem e criam oportunidades de trabalho, dependendo do seu uso.
Por exemplo, a fruticultura irrigada e vários outros produtos agrícolas, especialmente quando integrados com a produção animal, têm um poder enorme na geração de trabalho. Isso se torna ainda mais promissor quando praticado na base familiar. Nessas condições, as tecnologias mais criam do que destroem empregos.
No Brasil, há mais de 12 milhões de pessoas que trabalham em sítios, em chácaras e em pequenas unidades familiares e que, usando novas tecnologias, podem gerar muitos empregos ao cuidar de pomares das mais variadas frutas (abacate, abacaxi, limão, mamão, manga, figo, maracujá e muitas outras), assim como de produções de borracha, chá, dendê, erva-mate, ervilha, fava, palmito e urucum ("Empregos: do Palanque para o Brasil Rural", "O Estado de S. Paulo", 26/8/02). São produtos a serem desbravados e industrializados em grande escala para abastecer nosso enorme mercado interno e o faminto mercado externo -gerando uma enormidade de empregos indiretos.
Não me canso de admirar esse precioso presente de Deus aos brasileiros que, com o trabalho adequado, poderão superar, com segurança e sustentabilidade, a fome, o desemprego e as crises cambiais que fazem tantas pessoas sofrerem. Esse é o Brasil com o qual a geração passada alimentava poucos sonhos e que, agora, se torna uma oportunidade para ser descoberto, desbravado e construído.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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