São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Presidenciáveis, soros e vacinas
ISAIAS RAW, PAULO BUSS, ERNEY CAMARGO e AKIRA HOMMA
Na década de 80, quando o mundo passou por profunda modificação econômica e social, alguns países decidiram delegar suas necessidades em vacinas às leis do mercado, optando por comprá-las em vez de as produzir. O Brasil, entre outros países, decidiu produzi-las. Só as gerações futuras poderão dizer quem estava certo. No melhor de nosso entendimento, nós, hoje responsáveis pelas instituições produtoras de vacinas do país, achamos que a decisão foi totalmente correta. A partir da década de 80, o país optou pela auto-suficiência na produção de soros e vacinas, criando o Pasni (Programa de Auto-Suficiência Nacional de Imunobiológicos). Desde então, todos os governos têm honrado e patrocinado essa política. Nestes 20 anos, o Pasni investiu aproximadamente US$ 150 milhões na modernização e construção de novos laboratórios de produção segundo as normas das Boas Práticas de Fabricação. Hoje o parque estatal de imunobiológicos atende 80% da demanda por vacinas do país. Isso implica a produção anual de 200 milhões de doses de diversas vacinas. Informamos, com justo orgulho profissional, que a produção brasileira está atingindo ou já atingiu, para alguns produtos, certificação de qualidade internacional. Não obstante, para a conquista plena da auto-suficiência, ainda há muito o que fazer. Isso inclui a produção de vacinas de tecnologia já disponível, mas ainda não fabricadas no país (poliomielite inativada, meningite C conjugada, rotavirus) e o desenvolvimento de novas vacinas (cólera, tularemia, Aids, dengue, malária etc.). Inclui também o domínio tecnológico da nova geração de vacinas (DNA recombinante e vacinas de DNA), em substituição às atualmente utilizadas. Embora o objetivo da produção de soros e vacinas não seja gerar lucros, mas benefícios, os laboratórios produtores brasileiros já vêm proporcionando uma economia anual de cerca de US$ 100 milhões em divisas. Além disso, empregam 2.500 profissionais especializados, geram 30 mil empregos indiretos e movimentam aproximadamente US$ 100 milhões por ano. Para que a política nacional de auto-suficiência em soros e vacinas se consolide e aperfeiçoe, consideramos indispensável que o governo continue a privilegiar a aquisição dos produtos nacionais, sempre que estes apresentem qualidade igual ou superior à dos estrangeiros. Entendemos também que o governo deve manter atualizado o fluxo dos recursos financeiros devidos aos fornecedores de soros e vacinas e facilitar a importação de insumos e equipamentos essenciais para a modernização do parque produtivo nacional. Finalmente, consideramos essencial a continuidade de um programa plurianual de investimentos que permita a permanente atualização tecnológica e industrial do setor de imunobiológicos. A proximidade das eleições e o desejo de podermos compartilhar com os candidatos as responsabilidades pela saúde de nosso povo nos levam a pedir uma definição programática e clara dos senhores presidenciáveis sobre a produção nacional de soros e vacinas. Isaias Raw, 75, professor emérito da Faculdade de Medicina da USP, é presidente da Fundação Instituto Butantan. Paulo Buss, 53, é presidente da Fundação Instituto Oswaldo Cruz. Erney Plessman de Camargo, 67, é diretor da Fundação Instituto Butantan. Akira Homma, 63, é diretor do Laboratório de Biomanguinhos/Fiocruz. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Maria Hermínia Tavares de Almeida: A democracia sobreviveu Índice |
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