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O FRONT QUE CONTA
Toda guerra, inclusive a atual,
se trava em vários planos simultaneamente. Há o front militar propriamente dito, a opinião pública
dos países beligerantes, a questão financeira e o apoio da comunidade
internacional, para citar alguns dos
aspectos mais relevantes.
Do ponto de vista estritamente militar, não haveria meio de as forças
americanas serem derrotadas neste
conflito. Sua superioridade tecnológica é insuperável. Se tudo desse errado para os exércitos dos EUA, ainda assim os generais do Pentágono
poderiam vencer a guerra lançando
um artefato nuclear em Bagdá, o que
acabaria com Saddam Hussein, seus
acólitos e milhões de civis.
Mas os generais não deverão utilizar sua força total em virtude de limitações políticas. A opinião pública,
tanto a americana como a internacional, rejeitaria com violência o emprego de bombas atômicas. A vitória
no plano militar revelar-se-ia uma
tremenda derrota política. E derrotas
políticas podem ser ainda mais incisivas do que as militares. Foi no campo da opinião pública interna, e não
no front, que os EUA perderam a
Guerra do Vietnã.
Por enquanto, o presidente George
W. Bush conta com um confortável
apoio da opinião pública norte-americana. Cerca de dois terços da população defendem a guerra. Mas a inesperada resistência demonstrada pelos iraquianos, que pode levar ao
prolongamento da guerra, abre flancos para o imponderável.
Quanto mais longo for o conflito,
maiores serão as chances de os norte-americanos serem defrontados
com eventos que podem minar o
apoio a Bush. Um número superlativo de soldados dos EUA mortos pode ser um deles. Os constantes "enganos" das bombas "inteligentes",
que acertam e matam civis, ajudam a
corroer o prestígio da coalizão anglo-americana. Outro elemento importante revelado pela resistência de
Saddam é a percepção, pelos americanos, de que os iraquianos talvez
não desejem ser "libertados", ao menos não por tropas invasoras.
E vale lembrar que a aventura bélica
do presidente Bush já conta com sólida oposição da opinião pública internacional. De algum modo, o que
se passa no mundo acaba refletindo-se também nos EUA, ainda que em
parcelas restritas da população.
Por enquanto, a resistência iraquiana só fez diminuir o otimismo dos
norte-americanos em relação ao andamento do conflito, mas o apoio à
guerra segue alto. Se os combates se
prolongarem, porém, outros indicadores poderão sofrer brusca variação. O próprio Bush e seus principais
auxiliares parecem ter-se dado conta
da situação. O presidente queixou-se, por exemplo, do comportamento
da imprensa americana que questionou -e muito levemente, diga-se-
os planos militares, num claro indício de que as coisas não estão caminhando como Bush desejaria.
Embora as atenções estejam voltadas para a tela da TV, que transmite
ao vivo batalhas e bombardeios, essa
guerra, como outros conflitos em
que as forças beligerantes são desproporcionais, será decidida também no front político.
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