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GUERRA ESPECULATIVA
A rede de consequências de
uma guerra como a que se trava
neste momento no Oriente Médio é
extensa e intrincada. No palco, por
exemplo, das Nações Unidas -que,
longe dos refletores, parece perder o
foco-, continuam as escaramuças
diplomáticas.
Há no entanto um feixe de efeitos
desse conflito, bastante abstrato, que
se abate sobre a economia. É a guerra
especulativa em torno de prazos,
efeitos, negócios e expectativas gerados pelo conflito nos mercados financeiros de todo o mundo.
No início da ofensiva anglo-americana, há pouco mais de uma semana, os mercados financeiros esboçaram uma reação eufórica diante do
que pareciam sinais de que a invasão
seria certeira e a guerra, curta.
Mas o tempo dos mercados financeiros é o do curtíssimo prazo. Mais
uns poucos dias de guerra já foram
suficientes para gerar dúvidas sobre
a eficácia da estratégia norte-americana. Os mercados passaram a exibir
trajetórias mais erráticas, a volatilidade aumentou. Não está claro se o
conflito vai durar semanas ou meses.
É um cenário perfeito para a especulação. A incerteza aumentou muito e afeta praticamente tudo o que
importa na elaboração de cenários,
dos preços do petróleo à eclosão de
guerras comerciais, passando pela
hipótese cada vez mais provável de
contra-ataques terroristas numerosos e pulverizados nos próximos meses e anos, seja qual for a duração da
operação militar no Iraque.
O Fundo Monetário Internacional
deu contribuição oportuna ao jogo
das previsões, ressaltando as expectativas de que o mundo entrou num
período prolongado de incertezas
que podem manter a aversão ao risco
em níveis elevados, mesmo com os
EUA vitoriosos.
Em seu "Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global", publicado
na semana que passou, o Fundo coloca em questão as expectativas prevalecentes nos mercados financeiros
internacionais. E diz claramente que
os ativos financeiros poderão passar
ainda por novo ciclo de intensa desvalorização, dificultando a recuperação da economia mundial.
A interpretação do FMI repousa sobre o conceito de confiança. Suas
análises mostram que, se a guerra
durar mais que o esperado, a confiança se esvai. Mas também deixam
claro que, mesmo após a guerra, será
enorme o desafio de recuperá-la, em
todos os mercados do mundo.
As bases da confiança também estão sendo abaladas estruturalmente
pelo crescente desemprego mundial.
O alerta vem da OIT (Organização
Internacional do Trabalho, ligada à
ONU), que aponta para uma perda
esperada de até 24 milhões de empregos no mundo devido à guerra no
Iraque. O impacto será especialmente severo nos países em desenvolvimento e entre as populações de trabalhadores migrantes.
A especulação no curto prazo, girando em torno da duração da guerra
ou dos sucessos cotidianos das tropas anglo-americanas, pode até
mesmo gerar bolhas de euforia. O
cenário de longo prazo, no entanto,
parece a cada dia mais preocupante.
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