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CLÓVIS ROSSI
A vítima na guerra da notícia
SÃO PAULO - Noite dessas, em debate sobre o ataque ao Iraque na TV-5, o
canal a cabo da francofonia, um ex-presidente da organização "Médicos
sem Fronteira", disse que "nunca antes houve tantos jornalistas no teatro
de operações, mas nunca antes houve
tanta desinformação".
Exagero à parte (desinformação é
tão ou mais comum em guerras do
que tiros), o fato é que choca comprovar que, mesmo com a cobertura ao
vivo e em cores dos ataques, mesmo
com a tecnologia dos videofones,
mesmo com a facilidade de comunicações hoje existente, é tremendamente difícil entender o que está
acontecendo.
Seria tentador concluir daí que o
primeiro derrotado do conflito é o
jornalismo. Talvez até seja verdade,
mas é sempre bom tomar cuidado
com as generalizações. Por mais que
elogio em boca própria seja vitupério,
é óbvio que os bravos Sérgio Dávila e
Juca Varella estão prestando inestimável serviço ao leitor.
Quem, na verdade, está perdendo a
guerra é o jornalismo norte-americano. O que torna a derrota mais grave
é o fato de que a mídia dos Estados
Unidos é tida como modelo em todo
o mundo, em especial no Brasil.
Um modelo que se tornou mais respeitável ainda durante a guerra do
Vietnã, em que a independência e a
crítica foram exercidas em circunstâncias extremamente delicadas pelo
emocionalismo de toda guerra.
Até os atentados de 11 de setembro,
qualquer leitor/telespectador que só
pudesse consultar uma fonte jornalística internacional recorreria ao jornalismo norte-americano e estaria
razoavelmente bem servido.
Agora não. No caso do ataque ao
mercado de Bagdá, na quarta-feira,
a britânica BBC fez um trabalho
muito mais decente e informativo. E
trata-se de uma emissora pública, financiada por um governo que entrou
com tudo na guerra.
Não é só a BBC. A Rede Globo, mesmo com todas as imensas limitações
orçamentárias e sua pobreza comparativa em relação às redes dos EUA,
deixa seu público mais informado.
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