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ELIANE CANTANHÊDE
Um jeito de ser
BRASÍLIA - Ao presidir a última reunião ministerial, na Granja do Torto,
Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo a seus ministros: o de que evitassem vazamentos para a imprensa.
Em resumo, disse que todos ali
eram amigos desde criancinhas, tinham um projeto comum para salvar o Brasil e que deveriam sentir-se
com liberdade de falar qualquer coisa, sem censura. "Não dá para abrir
os jornais amanhã e ver tudo lá."
O pedido/advertência embute dois
objetivos claros de Lula ultimamente:
criar um "clima de equipe" entre os
ministros e evitar os tais "vazamentos" para a imprensa. Como se fossem, ambos, 100% possíveis.
Acabada a reunião, Lula ofereceu
um bom churrasco e a boa música do
Clube do Chorinho de Brasília. Riu,
brincou e aplaudiu quando Ciro Gomes (Integração), Miro Teixeira (Comunicações) e Roberto Rodrigues
(Agricultura) soltaram a voz.
Depois, o presidente adotou um hábito. Vira e mexe telefona para um
ou outro ministro com perguntinhas
quase casuais: "E aí, com que colega
você foi tomar chope esta semana?";
"Que casal você convidou para ir ao
cinema com você e sua mulher?".
Na outra frente, Lula quer que os
ministros abram a boca para cantar,
mas não para dar informações à imprensa. Declaratório formal pode. Informação mesmo sobre o que se discute, o que pode ser ou não ser, eventuais divergências, tudo proibido.
É um jeito de governar. Ou melhor,
um jeito de ser. Mas nem os ministros
foram escolhidos pela simpatia ou
para ficarem amigos, nem governos
devem ter tanto empenho para impedir que informações circulem. É assim que a sociedade se informa. Para
se manifestar depois.
Nos EUA, a simbiose entre Estado e
imprensa diante de questões tidas como de segurança nacional é um mau
exemplo de liberdade de expressão.
Com isso, presidentes como George
W. Bush conseguem até amplas
maiorias da opinião pública para
bombardear países alheios. Mas,
também com isso, cidadãos e cidadãs
se tornam mais desinformados. Perde o país. Talvez perca o mundo.
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