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CLAUDIA ANTUNES
Razões de Estado
RIO DE JANEIRO - Entre os ícones americanos que os acontecimentos
dos últimos anos puseram em questão está o da objetividade e da imparcialidade de sua imprensa. O 11
de Setembro foi um marco, mas a
corrosão da credibilidade começou
antes, na eleição de Bush, quando a
opção final foi pôr panos quentes nas
fraudes provavelmente decisivas para a vitória dos republicanos.
Os arranhões na mitologia não se
devem à excêntrica Fox, de Rupert
Murdoch, que nunca escondeu torcer
por Bush e suas políticas, mas ao
comportamento de veículos tradicionais, como o "New York Times" e o
"Washington Post". Mesmo na semana passada, quando fez um mea-culpa das notícias publicadas sobre armas de destruição em massa no Iraque, o "NYT" usou pesos e medidas
diferentes em relação a outra autocrítica recente, no caso Jayson Blair.
No episódio Blair, o jornal foi específico sobre os erros e duro com o repórter. Agora, numa questão com
conseqüências muito mais graves
(tratava-se da justificativa para uma
guerra), optou por uma retratação
mais fluida. Pior do que isso: ao reconhecer ter confiado demais em fontes
da oposição a Saddam Hussein, o
"Times" sugeriu que autoridades do
governo também tenham sido enganadas por elas.
O que isso significa é que, a despeito
da pluralidade e da liberdade de expressão próprias a um país democrático, para o quarto Poder nos EUA, o
limite da imparcialidade são as chamadas razões de Estado.
Antes do ataque às torres gêmeas
ou da invasão do Iraque, essa já era a
regra nas reportagens sobre outros
países. Para ficar em exemplos mais
evidentes, o venezuelano Hugo Chávez nunca esteve separado de adjetivos como "populista" ou "esquerdista", o conflito entre Israel e os palestinos sempre teve cobertura pouco objetiva e o velho programa nuclear
brasileiro passou, recentemente, a ser
enquadrado nas mesmas suspeitas
dirigidas a países considerados "párias" pela Casa Branca.
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