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GRAVE CRISE
A crise que o país atravessa é
grave. Ela tem aspectos puramente econômicos e também uma
dimensão política, que se retroalimentam para resultar num círculo
vicioso. Há quem acredite que os
mercados e os grandes especuladores internacionais estejam colocando
em prática uma chantagem contra a
democracia. Ao considerar o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio
Lula da Silva, um elemento desestabilizador da economia, investidores
estão introduzindo no processo eleitoral uma nova variável.
Fica a ameaça -velada ou explícita, tanto faz- de que, se o candidato
petista sagrar-se eleito, cessará o fluxo de capitais que financia as contas
externas do país. Esse movimento,
aliás, já teve início. Na verdade, para
além da condenável ação de especuladores que procuram transformar o
temor a Lula em lucro, existem pequenos, médios e grandes investidores que, com toda a legitimidade,
tentam preservar seus interesses.
Mesmo o termo "investidores" merece uma análise um pouco mais cuidadosa. Por trás da imagem talvez
pouco simpática dos gestores de
fundos estão as economias de pessoas, que podem ser trabalhadores,
aposentados, viúvas. Aceitas as regras da economia de mercado, qualquer movimento defensivo desses
aplicadores é plenamente legítimo e
perfeitamente racional.
Constatar essas obviedades não
significa que o Brasil deva resignadamente aceitar tudo o que lhe seja imposto por investidores ou pela guerrilha eleitoral. Antes de mais nada, é
fundamental cuidar para que não se
alimente ainda mais a crise com interesses eleitoreiros.
O PT fez bem, por exemplo, ao afirmar, ainda que retoricamente, seu
compromisso com alguns dos elementos mais fundamentais de uma
política econômica responsável. Seria desejável que outros candidatos
fizessem o mesmo.
A crer no que os principais postulantes à Presidência da República
vêm afirmando, ninguém defende
uma ruptura com as regras da economia de mercado. Os concorrentes
têm agora a obrigação de reafirmar
esse princípio e de detalhar suas propostas de política econômica.
A economia é terreno fértil para as
chamadas profecias auto-realizáveis.
Colocar combustível na crise, mesmo acreditando fazê-lo de modo
controlado, poderá revelar-se trágico
se desencadear, por exemplo, uma
corrida contra o real.
Não se pode minimizar o fato de
que a fragilidade das contas externas
e o aumento rápido da dívida pública
constituem o caldo de cultura para os
questionamentos em torno do cumprimento dos contratos relativos às
dívida interna e externa. Se a posição
da economia fosse realmente sólida,
a incerteza não teria como prosperar.
E essas fragilidades não são obra do
futuro governo: são resultados da
atual política econômica, que foi
bem-sucedida em estabilizar os preços, mas que, no fundo, trocou inflação por dívida.
Mesmo que os candidatos que realmente têm chances de chegar à Presidência coloquem o cálculo político
acima dos reais interesses da população -o que pode ocorrer num período eleitoral-, convém a cada um deles manter a crise pelo menos estancada. Um agravamento da situação
econômica agora, ou mesmo uma
deterioração acentuada no perfil da
dívida pública, poderá dificultar ainda mais o futuro da próxima administração federal.
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