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ORIGENS DA RIQUEZA
Depois de duas décadas perdidas, o Brasil continua órfão de
um modelo de desenvolvimento econômico. A riqueza que se produz é
mal distribuída, e o seu crescimento
carece de bases sustentáveis.
Essa questão diz respeito ao lado
real da economia e é central para o
futuro da nação, mas está totalmente
ofuscada pela incerteza financeira.
No entanto qualquer solução de
longo prazo para o financiamento
das dívidas (interna e externa), assim
como para o conjunto da política
econômica, exige a criação de horizontes de crescimento econômico.
Dados sobre o assunto não faltam.
O governo, aliás, acaba de divulgar
informações preciosas nesse campo.
A Pesquisa Industrial Anual (PIA) de
2000, feita pelo IBGE, revela por
exemplo um processo de descentralização das empresas no território
nacional. O entendimento mais adequado das origens da riqueza na economia brasileira é uma condição necessária para a formulação de cenários de crescimento.
Entre 1985 e 2000, Rio e São Paulo
perderam participação relativa, enquanto a produção das indústrias do
Sul, Centro-Oeste e Norte cresceu
igualmente ou acima da média nacional. O Nordeste, tradicionalmente beneficiado por políticas de fomento, continua sem capacidade de
resposta (com exceção do Ceará).
Mas a interiorização e desconcentração da indústria são dados cruciais
no desenho do crescimento futuro.
O Sul teve uma ampliação expressiva de sua participação na produção
da riqueza nacional. O Centro-Oeste
concentrou as taxas mais elevadas de
crescimento relativo na indústria nacional, refletindo uma significativa,
mas ainda pouco reconhecida, abertura de novas frentes de desenvolvimento, em especial da agroindústria.
O aprofundamento da análise desses dados e tendências levaria à formulação de políticas industriais, tecnológicas, de comércio exterior e de
fomento à descentralização. Deveria
estar no topo da agenda.
Ampliar esse debate não deveria
significar um exercício ufanista ou
diversionista. As questões financeiras assumiram gravidade sem precedentes, e a política de estabilização
da era FHC mostra-se insuficiente.
Mas as perspectivas de longo prazo
de qualquer política econômica derivam em última instância da confiança nos horizontes de crescimento
econômico. E a construção dessa
confiança depende de informações e
cenários, de modelos e diretrizes para as quais há dados e pesquisas produzidos pelo próprio governo.
Infelizmente, o que falta é a inteligência dessa realidade, o que contribui para que os destinos da economia flutuem ao sabor dos humores
financeiros que condicionam a agenda política nacional.
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