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CLÓVIS ROSSI
Olhar para o lado não resolve
SÃO PAULO - Luiz Inácio Lula da Silva pode ter se modificado tudo o que
alguns dizem que mudou ou pode
continuar sendo "lobo em pele de
cordeiro", como preferem seus inimigos -em geral por puro preconceito.
Só não mudou numa coisa: prefere
fingir que não há um terrorismo financeiro nos mercados provocado
pelo fato de que ele lidera todas as
pesquisas de intenção de voto. Ou então acredita sinceramente no que diz,
o que seria mais grave.
Na entrevista ontem publicada por
esta Folha, Lula disse a Plínio Fraga
que a turbulência nos mercados se
deve a fatores internacionais mais
amplos, como as dificuldades da economia norte-americana, que causam
abalos num país vulnerável por depender do capital externo como é nitidamente o caso do Brasil.
"Risco Lula é terrorismo que pode
se voltar contra o governo", declarou.
Até aí, é verdade. Parece hoje haver
um certo consenso, no próprio governo, de que agitar a hipótese da "argentinização" no caso de vitória de
Lula foi feitiço que se virou contra o
feiticeiro.
Mas pretender que apenas o governo satanize Lula é enfiar a cabeça na
areia. O candidato do PT, como qualquer um, pode detestar o terrorismo
que grassa nos mercados. Só não tem
o direito de ignorá-lo.
Lula sabe perfeitamente que setores
do empresariado não o aceitam nem
vestido de ouro e prata. Mesmo que
Lula designe Jesus Cristo para ministro da Fazenda, continuará a ser visto como o demônio.
Sem contar o fato de que o capital é
covarde por definição, e um partido
que foi socialista só faz acentuar essa
inata covardia.
Reconhecer essa situação não significa, como é óbvio, concordar com
ela. Mas quem pretende enfrentar como governante os formidáveis problemas do Brasil não pode ignorar
fatos da vida real, por desagradáveis
ou até odiosos que sejam.
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