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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Aquele abraço
SÃO PAULO - A imagem do abraço
emocionado entre Fernando Henrique e Lula no velório de Ruth Cardoso comoveu muita gente, além
dos amigos. Primeiro, pela expressão de dor inconsolável do ex-presidente, mas também pela intensidade espontânea do carinho recíproco
que fotógrafos puderam registrar.
A cena também provocou, é verdade, reações mesquinhas de algumas poucas figuras malsãs, prontas
a denunciar a hipocrisia e outras
conveniências do teatro político
naquele gesto de solidariedade.
O que prevaleceu, contudo, reforçado pela menção do próprio Lula
aos "fortes laços entre PT e PSDB",
foi o sentimento de cumplicidade,
que da esfera afetiva logo derivou,
de lado a lado, para comentários cujo resumo seria uma indagação em
tom de lamento: se somos tão parecidos, por que não estamos juntos?
Destampados pelo trauma da
perda de uma vida exemplar, vieram à tona na Sala São Paulo a história comum, as identidades, o fato
de que, a despeito de eventuais divergências, seriam todos membros
da mesma família, alguns próximos,
como irmãos queridos, outros primos distantes, sem grandes afinidades e com reservas recíprocas -afinal, parente também é serpente.
Na vida real, porém, as coisas não
parecem pender para posições esclarecidas, como a do prefeito de
BH, Fernando Pimentel. Está certa
Eliane Cantanhêde ao dizer que "a
foto, tão forte, remete ao passado,
mas não projeta o futuro".
Mais do que isso, é como se a imagem do abraço de FHC e Lula nos
devolvesse o tamanho real de suas
figuras, como se, naquele instante,
ficasse evidente que ambos foram e
serão mais importantes "na história deste país" do que o presidente
que um já foi e o outro ainda é.
Que esse reconhecimento seja
acompanhado pela relativa frustração com o que realizaram no poder
faz parte do show brasileiro. Entre
nós, mesmo quando avança, a história carrega as marcas do atraso e
deixa de cumprir promessas que
acumulou. Isso já dizia um jovem
sociólogo no início dos anos 60.
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