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ELIANE CANTANHÊDE
"5 + 1" é igual a zero
BRASÍLIA - O Brasil descartou um
tratado Mercosul-EUA, atirou a Alca (Acordo de Livre Comércio das
Américas) no lixo, arquivou as negociações do bloco com a União Européia e impediu acordos em separado dos vizinhos do Cone Sul com
os norte-americanos.
Tudo para apostar todas as suas
fichas e as do Mercosul numa única
jogada: a Rodada Doha da OMC
(Organização Mundial do Comércio), para liberalização comercial.
Com o fim -e a derrota- da Rodada Doha, só resta fazer o percurso
inverso, botando fichas no Mercosul-UE no segundo semestre, tentando reabrir conversações com os
EUA e enfim voltando lá atrás para
resgatar as negociações "4+1" (Mercosul com EUA), da era FHC.
Trata-se de enorme retrocesso,
tantos anos, "papers" e até negociadores depois, e num ambiente político bem pior: Bush não tem força
política nem legitimidade para
acertar qualquer coisa neste ano e o
futuro presidente, seja Obama, seja
McCain, terá $milhões de outras
prioridades no próximo.
O Brasil e o seu grande negociador, Celso Amorim, ocuparam um
papel evidente de liderança na
OMC, principalmente, mas não só,
pela articulação do G20, o grupo de
países agrícolas que mudou o equilíbrio da mesa, falando de igual para
igual com EUA e UE. Mas não há vitoriosos, só derrotados.
O desafio é manter a liderança
numa eventual reabertura de diálogo do Mercosul com os EUA. A Argentina vive uma crise interna e ficou isolada na OMC, com Índia e
China. O Paraguai empossa Fernando Lugo e está muito ocupado.
O Uruguai pode tripudiar -afinal,
não fez um TLC (acordo bilateral)
com os EUA porque o Brasil pressionou e o Mercosul não permitiu.
Mas o pior nem é isso: se o acordo
4+1 já não foi possível, imagine-se
agora um acordo 5+1, com a Venezuela de Hugo Chávez? Lula e Amorim deveriam sonhar em ressuscitar a Rodada Doha. Ruim com ela,
pior sem ela -e sem Alca, sem 4+1,
sem TLC. Não sobra nada.
elianec@uol.com.br
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