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PEDRAS NO CAMINHO
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, citou
em discurso recente o poeta Carlos
Drummond de Andrade, ao referir-se às "pedras no caminho" do país
rumo ao desenvolvimento sustentado. No discurso, Meirelles mencionou que a remoção dessas pedras
corresponderia a uma reativação expressiva e continuada dos investimentos produtivos. Tal reativação teria como requisito a preservação da
estabilidade macroeconômica, por
meio da aprovação das reformas
propostas pelo governo e da persistência em políticas fiscal e monetária
que considera "consistentes".
É importante o reconhecimento da
necessidade de reativar o investimento. Nos últimos anos o país viveu vários surtos de crescimento que acabaram por se revelar breves. Esses espasmos, puxados sobretudo pela retomada do crédito, foram acompanhados por reações tímidas do investimento, que logo foram revertidas.
É justamente pela falta de maiores
recursos para investir que, apesar de
há 20 anos vir mantendo um ritmo
médio de expansão modesto, a economia brasileira continua padecendo de gargalos em sua estrutura produtiva -como energia elétrica, produtos siderúrgicos e celulose, para
citar exemplos mais conhecidos.
Os desafios a vencer para alcançar e
manter um ritmo de crescimento
mais robusto -e, portanto, da economia como um todo- são complexos. Não há um "caminho das pedras", uma receita pronta.
Obviamente, a primeira pedra a ser
retirada é a própria política monetária restritiva. Uma vez constatado o
recuo da inflação e os danos recessivos, cabe ao BC promover mais rapidamente quedas na taxa de juros que
possam efetivamente influir sobre os
elevadíssimos "spreads" cobrados
no mercado, facilitando melhores
condições creditícias. Tal política
também teria efeitos positivos sobre
a dívida pública, talvez a grande pedra no caminho da economia.
Dado esse passo, a experiência já
indicou alguns perigos que precisam
ser evitados. Um deles é permitir que
as contas externas voltem a se tornar
excessivamente vulneráveis. Não se
pode esquecer que foram justamente
crises de escassez de dólares que
abortaram os breves ciclos de crescimento da economia brasileira observados nos anos 80 e 90. Esse é um aspecto que mereceu pouca ênfase no
citado discurso do presidente do BC.
Menos mal que outros segmentos do
governo pareçam estar dando atenção ao problema.
Outro risco seria uma confiança excessiva das autoridades na manutenção da estabilidade como condição
suficiente para reativar os investimentos. Para os padrões históricos
do país, nos últimos nove anos atravessou-se um período de relativa estabilidade de preços sem que isso tenha acarretado uma reação mais firme dos investidores. É mais do que
razoável admitir que a estabilidade
seja uma condição necessária, mas
ela não vem se revelando suficiente
para estimulá-los a abandonar posições defensivas.
Isso sugere a necessidade de uma
ação coordenadora do Estado com
vistas a promover investimentos e
políticas industriais voltadas para a
competitividade da indústria, portanto, para sua capacidade de exportar mais e de substituir importações.
Não será difícil o país obter algum
aquecimento nos próximos meses e
mesmo em 2004. Caso, porém, isso
ocorra apenas com base na expansão
do consumo, sem um ciclo maior de
investimento, as pedras, infelizmente continuarão onde estão.
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