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CARLOS HEITOR CONY
O vento que leva
RIO DE JANEIRO - Os primeiros meses do atual governo estão sendo
marcados pela semelhança com o governo anterior, não apenas na condução da política econômica como
de algumas práticas operacionais
que lembram o sistema tucano de governar. A grande, para não dizer a
única diferença, seria o estilo pessoal
de FHC, o professor, e Lula, o metalúrgico.
Semana passada, ao declarar que
nunca fora esquerdista, nem gostava
de ser considerado homem de esquerda, Lula fez lembrar o seu antecessor,
que disse mas não disse ou quase disse que nunca pediu que esquecessem
o que ele dissera ou escrevera no passado.
Compreendo a declaração de Lula.
O maniqueísmo primário que divide
esquerda e direita simplifica as posições de um e de outro lados. Ser da
direita é ter apoiado o regime militar,
defender o imperialismo dos EUA,
justificar os horrores do nazismo, do
fascismo, do franquismo, do salazarismo e, de quebra, gostar do repertório do Roberto Carlos e admirar os
artigos do Olavo de Carvalho.
Ser da esquerda é mais ou menos o
oposto de tudo isso, e vamos e venhamos, Lula seria um esquerdista de
carteirinha, embora tenha marchado
com Deus pela liberdade nos alvorecer do movimento de 1964. E tem razão quando reivindica uma posição
centrista diante dos desafios que se
colocam em seu caminho de líder popular e, agora, presidente da República.
Tirante os centros espíritas, os chamados centros se resumem a adotar
uma atitude oportunista, tendendo
para um lado ou outro, geralmente
para a direita nas horas mais complicadas. O discurso do centro tem forma esquerdista mas conteúdo de direita. E está sempre afinado com o
vento que sopra. Sua grande força,
diria até, sua única virtude, é realmente meteorológica. Indo para onde o levam, sente-se responsável pelo rumo do Estado e da sociedade.
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