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MARROCOS
Fez mescla ares intelectuais e espirituais
Cidade abriga 500 mesquitas e madrassas e foi sede da primeira universidade do país, no séc. 10º
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM MARROCOS
Um homem velho empurra
um burro ruela abaixo. Ele grita: "Balek! Balek!". Os turistas
não entendem, mas abrem caminho. E o dia retoma seu ritmo tranqüilo. Não existe estresse na medina de Fez El-Bali. O tempo é outro no emaranhado de vielas inalterado desde a Idade Média. Visitar Fez
inclui viajar pelo tempo.
O ideal é entrar na cidade velha pela Bab Boujeloud, a mais
bela das 14 portas de entrada.
Ali perto fica a mais antiga escola corânica do mundo árabe-islâmico: a madrassa Bou Inania, construída no século 14 pelo sultão Abou Inan. Esse é um
dos poucos monumentos religiosos aberto aos não-muçulmanos no Marrocos.
Fez é considerada por muitos
a capital espiritual do país.
Abriga 500 mesquitas e inúmeras escolas religiosas. A El-Attarine é outra madrassa que pode ser visitada. Apesar de pequena, é considerada a mais bela de Fez. Fica bem perto do
souk das especiarias.
Perder-se dentro da medina
faz parte do jogo. Impossível
indicar um roteiro detalhado, o
melhor mesmo é tentar seguir
um rumo ou contratar um guia.
Na proximidade do souk de
hena -usado pelas mulheres
para colorir o cabelo e tatuar as
mãos e os pés-, tente encontrar o Fondouk El-Nejjarine,
uma das construções mais famosas de Fez. Esse antigo abrigo para caravanas de comerciantes, patrimônio histórico
da humanidade tombado pela
Unesco, é agora um museu.
Cruzando algumas ruelas, é a
vez de admirar a zaouïa de
Moulay Idriss 2º, um dos santuários mais venerados do país.
É nesse local que está o túmulo
do fundador de Fez -da dinastia Idrísida. No final de cada verão, fiéis e peregrinos da região
acendem ali velas e incensos.
Fez El-Bali nasceu no século
8º, quando 8.000 famílias árabes, expulsas da Andaluzia pelos exércitos cristãos, se fixaram às margens do rio Wadi
Fez. Esses árabes trouxeram a
arte e a experiência de uma civilização que estava no ápice de
sua glória -como pode ser visto nos ornamentos, estuques e
mosaicos da mesquita Andaluza e na madrassa Es-Sahrij, ao
lado da fonte Nejjarine.
A mesquita de El-Kairaouine
é considerada uma das mais
imponentes do mundo islâmico. A sala de orações, com 270
colunas decoradas, pode acolher 20 mil pessoas.
Foi sede da primeira universidade do Marrocos ainda no
século 10º, e freqüentada desde
então por sábios como o filósofo Averroés e Ibn Khaldoun
-tido por alguns como um fundador da sociologia.
O complexo de El-Kairaouine também abriga uma biblioteca com 30 mil livros e manuscritos e ainda hoje é um dos
principais centros intelectuais
da África. Resta a nós, turistas
ocidentais, observar com discrição o que se passa lá dentro.
A partir de uma das portas da
mesquita é possível acompanhar o ritual dos fiéis se lavando antes das orações.
Não é raro receber uma oferta de um suposto guia prometendo uma vista completa da
mesquita. Não espere muito, o
máximo do que pode ser visto
de cima é o enorme teto verde e
o mais antigo minarete do
mundo muçulmano.
Um dos espetáculos mais impressionantes em Fez também
é visto do alto dos terraços. O
quarteirão dos curtumes, ao
norte da praça El-Seffarine, é
parada obrigatória. Olfatos delicados terão dificuldade de
agüentar o cheiro forte.
Dentro de poços multicoloridos, peles de animais são tingidas com pigmentos naturais,
para se transformarem em produtos que serão vendidos nos
souks da cidade. Diferentemente do curtume de Marrakech, o de Fez é bastante ativo.
O museu Dar El-Batha abriga
a coleção de arte popular mais
completa de Marrocos. Há tapetes e bijouterias berberes, as
famosas cerâmicas azuis de
Fez, além de manuscritos antigos. Aproveite a tranqüilidade
desse palácio andaluz para uma
pausa nos jardins.
O Dar El-Bartha fica a poucos
metros de Fez El-Jdid, a cidade
nova, criada no século 8º por
Abou Youssef. Quando a dinastia Merenidas subiu ao poder,
achou Fez El-Bali pequena demais para seus palácios. Decidiu então fazê-los fora das muralhas; e assim nasceu Fez El-Jedid. Entre os destaques, estão o palácio real de Fez, o Kasbah dos Cherarda e o quarteirão de Moulay Abdallah.
É também desse lado da cidade que fica o mellah, o antigo
bairro judeu. Até o século 19,
essa área era fechada por uma
porta de ferro todas as noites.
Hoje, o mellah tem uma superpopulação e guarda pouca
semelhança com o passado. Os
judeus se mudaram para Casablanca, França e Israel. A sinagoga Danan e o cemitério judaico resistiram às mudanças.
A terceira faceta de Fez, dita
européia, é moderna e desprovida de charme. Tem avenidas
largas e arborizadas, construídas após a Primeira Guerra
Mundial (1914-1918), mas pouco interessantes para os olhos
curiosos dos turistas.
(LETÍCIA FONSECA-SOURANDER)
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