|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARROCOS
Em Marrakech, praça mescla tradições e traduz alma do país
Cheia de curandeiros e encantadores de serpentes, cidade recebe 8 milhões de turistas por ano
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM MARROCOS
Por trás das muralhas avermelhadas de Marrakech, a praça Jeema-el-Fna abriga um espetáculo exótico do planeta.
Encantadores de serpentes,
contadores de histórias, curandeiros e vendedores de água se
misturam aos turistas. Único
no mundo árabe, esse palco de
tradições populares traduz a alma marroquina.
Durante séculos, o local foi
ponto de encontro de camponeses e mercadores da região
montanhosa do Alto Atlas e do
sul do país. Hoje, tombada pela
Unesco como patrimônio oral e
imaterial da humanidade, a
Jeema-el-Fna continua fascinando quem passa por lá.
O clima na praça se torna
mais feérico com o entardecer.
Gritos de ambulantes se misturam aos sons dos tambores dos
gnaouas -descendentes dos
escravos sudaneses. Vestidos
de caftans e bonés bordados,
eles exibem danças acrobáticas
ao ritmo das graqans, espécie
de castanholas de ferro.
Serpentes são enroladas em
braços de turistas que posam
para fotos, enquanto batedores
de carteira entram em ação.
No meio da confusão, uma
jovem marroquina enfeita os
pés com tatuagens de hena.
A noite chega, e lanternas a
querosene iluminam a multidão a saborear pratos típicos
que custam até 25 dirhans (R$
5,40). O cheiro é de carne grelhada, cuscuz e harira -sopa de
grão-de-bico e lentilha.
Nos terraços dos cafés que
rodeiam a praça, turistas acompanham o frenesi de Marrakech, essa antiga capital de dinastias berberes que atrai visitantes desde sempre.
Aos pés da cordilheira do Alto Atlas, Marrakech é a encarnação do sonho dos ocidentais
pelo Oriente. Ruelas, mesquitas, mercados a céu aberto, palácios e jardins -além da garantia de sol, até no inverno.
Nos anos 60, era o destino favorito de hippies e meca dos
Rolling Stones. Anualmente,
recebe 8 milhões de turistas e é
epicentro de visitação num país
em que o turismo é o setor mais
representativo da economia
-responsável por mais da metade do PIB. Marrakech, que
em berbere significa Marrocos,
ou "a terra onde o Sol se põe", é
a cidade mais famosa do país.
No mundo árabe o salât -a
oração- é feito cinco vezes por
dia. Às 4h é o primeiro chamado. Dos minaretes, a voz do
muezim -amplificada pelos alto-falantes- enuncia: "Alá é o
maior". De dentro do minarete
da Koutoubia, orgulho de Marrakech, a cena se repete.
A mesquita Koutoubia, do século 12, deve o seu nome ao
mercado de livros que ali existiu. Inspirou a construção da
torre La Giralda, em Sevilha.
Em Marrocos, é proibida a
entrada de turistas não-muçulmanos nas mesquitas; exceção
à Grande Mesquita Hassan 2º,
em Casablanca. Em Marrakech, resta ver as fachadas de
Sidi bel Abbès e de El-Mansour,
conhecida como mesquita de
La Kasbah. E vale a pena.
Já a madrassa Ben Youssef,
do século 12, faz parte da rota
turística. Essa, que foi a maior
escola corânica do Magreb (região que vai de Marrocos ao
oeste da Líbia), já acolheu 900
alunos e funcionou até 1960.
Modelo de arquitetura árabe-andaluz, tem o pátio decorado por versos religiosos gravados no gesso e paredes de mosaicos. Dá para ver o salão que
servia para aulas e orações e as
celas onde estudantes viviam.
Uma semana é pouco para
desvendar Marrakech, mas
seus melhores tesouros podem
ser vistos em menos tempo.
Comece pelo jardim Majorelle,
propriedade do costureiro
francês Yves Saint-Laurent
desde os anos 80. A bela casa
azul, cercada de bouganvílleas,
coqueiros, bananeiras e cáctus,
é um oásis dentro de Guéliz, a
parte moderna da cidade. Yves
Saint-Laurent morreu em junho passado, e suas cinzas foram espalhadas nesse jardim.
De volta à medina, visite as
tumbas saadianas, onde estão
enterrados os sultões da dinastia de mesmo nome, que reinou
em Marrocos nos séculos 16 e
17. O palácio Dar Si Saïd é uma
jóia da arquitetura árabe-andaluz do século 19. Com muros altos, é hoje um museu e abriga
coleções de arte do sul do país.
Contemporâneo de Dar Si
Saïd, o palácio Bahia -que foi
residência do grão-vizir Ba Ahmed, suas quatro esposas e 24
concubinas- é de tirar o fôlego
de tão bonito. Pátios ajardinados oferecem uma pausa perfeita antes de continuar o roteiro. Por fim, vá às ruínas do palácio El-Badi, do século 16, que
era considerado a grande maravilha do mundo muçulmano.
Hoje, ninhos de cegonha dão
um toque especial ao local.
Primeiro oásis do norte do
Atlas, a Palmeraie de Marrakech, a 20 km da cidade, é outra
visita indispensável. Reza a lenda que foram as sementes das
tâmaras cuspidas pelos soldados da dinastia Almoravidas
que deram origem às primeiras
árvores. Hoje, com mais de 150
mil tamareiras, irrigadas por
um sistema de canalização subterrâneo, é uma área agradável.
Não deixe Marrakech sem
conhecer o museu e centro cultural dentro do palácio Mnebhi, um dos mais bonitos da cidade. A fachada austera esconde a riqueza dos detalhes arquitetônicos do interior -destaque para os tetos esculpidos e o
lustre do salão principal.
Logo ao lado, a Koubba Ba'Adiyn, relíquia intacta da arte almoravida, do século 12, também pode ser visitada. Esse
anexo da madrassa Ben Youssef servia para o ritual de lavagem dos fiéis antes das orações.
(LETÍCIA FONSECA-SOURANDER)
Texto Anterior: Marrocos: Calendário é marcado por celebrações religiosas Próximo Texto: Mercados oferecem maior variedade de artesanato, peles e artigos de couro Índice
|