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"IN AND OUT"
Associada ao "estilo internacional", cidade demorou para se abrir à arquitetura contemporânea de autor
Com sua geometria democrática, NY se impõe pelo conjunto
GUILHERME WISNIK
ESPECIAL PARA A FOLHA
Por trás dos arranha-céus de
Manhattan pulsa uma energia
lúdica, fantástica e artificial,
herdada dos grandes parques
de diversão de Coney Island,
que fizeram sucesso no raiar do
século 20. Essa é a tese do arquiteto holandês Rem Koolhaas, no livro "Nova York Delirante", lançado no Brasil neste
ano pelo Cosac Naify.
Tendo crescido sem o impulso de manifestos ou experimentalismos de vanguarda, a
cidade foi construída pelo "puro mercado", diz Koolhaas, daí
a sua vitalidade.
No entanto, engana-se quem
espera encontrar, no coração
do capitalismo, uma metrópole
desenhada pelo caótico "laissez-faire" da iniciativa privada.
Pois se a pressão da especulação imobiliária empurra a cidade infinitamente para cima, na
figura do arranha-céu, é porque, no nível do solo, o seu desenho está perfeitamente regulado em favor da coletividade,
com um traçado regular de ruas
e um parque soberano no miolo
da ilha: o Central Park.
A propósito, como bem disse
o semiólogo francês Roland
Barthes, a geometria nova-iorquina é democrática. Ela serve
para que cada um se sinta, poeticamente, "proprietário da capital do mundo".
Caminhando pelas quadras
entre a Lexington, a Madison e
a Park Avenue, no Midtown,
podemos atravessar vários térreos públicos de edifícios privados, cruzando-os por dentro.
Por ali, encontramos também o
belíssimo edifício Lever (1952),
de Gordon Bunshaft, o modelo
do nosso Conjunto Nacional , e
o Seagram (1958), de Mies van
der Rohe: o original "grego"
diante do qual todos os outros
prédios modernos não passam
de imperfeitas réplicas romanas. É uma jóia discreta.
Conjunto
Nova York, no entanto, nunca foi um mostruário de pérolas
arquitetônicas excepcionais, e
sim uma cidade que se impõe
pelo conjunto. Isto é, por sua
urbanidade opulenta e sem afetação, cuja força de eficiência e
impessoalidade ficou associada
ao chamado "estilo internacional" em arquitetura. Com uma
honrosa exceção: o museu Solomon R. Guggenheim (1959),
de Frank Lloyd Wright.
Demorou para que a cidade
se abrisse mais amplamente
para a arquitetura contemporânea de autor, que começa a
povoar hoje os centros de arte e
moda de Manhattan: o SoHo e
o Chelsea. Assim, desde o começo do milênio, arquitetos como Rem Koolhaas (Loja Prada,
2001), Norman Foster (Hearst
Tower, 2006), Frank O. Gehry
(sede da InterActiveCorp,
2008), e a dupla japonesa Sanaa
(New Museum, 2008), têm
criado edifícios que vêm rivalizar com os resistentes símbolos
da cidade, ainda ecléticos e art
déco (o Flatiron, 1902, o
Chrysler, 1930, e o Empire State, 1931). E no distrito financeiro de Wall Street, em substituição às anônimas Torres Gêmeas do World Trade Center
(1973), de Minoru Yamasaki, o
espanhol Santiago Calatrava
erguerá sua arquitetura musculosa e expressionista.
No raiar do chamado "século
chinês", não sabemos se a capital do século 20 continuará a
afirmar o espetáculo da cidade,
ou se capitulará à sedução fácil
da "arquitetura espetacular".
GUILHERME WISNIK, 35, é arquiteto e autor de
"Lucio Costa" (ed. Cosac Naify, 2001)
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