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Televendedores se desdobram numa rotina alucinante para aparecer nos mais variados programas e canais
Tudo pelo seu TELEFONEMA
Matuiti Mayezo/Folha Imagem
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Paulo Salgado no estúdio da Rede TV!, anunciando CDs |
ANA PAULA FRANZOIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
VERSATILIDADE é a palavra de
ordem entre os televendedores. Em
suas pequenas bancadas no canto dos estúdios, eles podem anunciar antena de
televisão, creme redutor de gorduras, cabide multiuso, carro, pílula emagrecedora ou título de capitalização. Mas, como
não têm vínculo empregatício com nenhuma emissora, o local de trabalho
também muda a toda hora, e isso transforma sua rotina diária numa autêntica
maratona.
Os televendedores mais requisitados
podem ser vistos num único dia em até
cinco programas de emissoras diferentes. "Outro dia, fiz a conta e vi que apareço na TV em média uma hora por semana, somados todos os merchandisings
que apresento", diz Paulo Salgado, 36,
apelidado de "Silvio Santos" por Ney
Gonçalves Dias, da RedeTV!.
Um dos pioneiros na atividade, Salgado deixou o jornalismo para ser televendedor há dez anos. "Seria muito difícil
receber o que ganho hoje se tivesse continuado como repórter de televisão", diz.
Como a maioria dos profissionais, o televendedor não gosta de contar quanto
ganha. "A média mensal fica entre R$ 10
e R$ 15 mil para os mais experientes", segreda um deles, pedindo anonimato.
Eles não ganham comissão sobre as
vendas, mas recebem cachês por entrada
no vídeo. Para os iniciantes, o valor por
aparição gira em torno dos R$ 100, e as
despesas com figurino, maquiagem e
transporte são pagas do próprio bolso.
"Para começar, o melhor caminho é
entrar em contato com as empresas e
agências que atuam no setor de televendas", indica Verena Zago, 29, no ramo há
quatro anos.
"Comecei como operadora de telemarketing, e o funcionário da empresa que
fazia o merchandising faltou. Meu gerente me convidou e, em pouco tempo,
já estava pulando de estúdio em estúdio", lembra ela.
O começo da carreira de Ademir Plasa
Filho, 29, foi bem parecido. "Trabalhava
como vendedor em uma corretora e fui
chamado para substituir um colega na
TV. A tensão se dissolveu nos primeiros
segundos, pois sou comunicativo."
Correria
O dia-a-dia da profissão
afasta qualquer imagem de glamour. De
12 horas diárias de trabalho, pelo menos
quatro são passadas dentro do carro. Como ganham por aparições, é preciso fazer várias ações de vendas por dia para
conseguir um bom rendimento mensal.
O trânsito de São Paulo é um inimigo
constante, especialmente em dias de
chuva. Verena quase faz mágica para
cumprir a agenda. "Com certeza, parte
significativa do que ganho vai para as
multas", diz.
Quando o tempo fecha, o jeito é trocar
as ações com algum colega de trabalho.
"Na semana passada, estava na RedeTV!,
em Barueri, e precisava chegar em
meia hora à Gazeta, na avenida Paulista. Não dava. Liguei para o Paulinho, e
trocamos. Fiz o dele na RedeTV!, e ele
o meu na Gazeta", conta Verena.
A moto parecia a solução perfeita
para Plasa Filho, mas as duas que
comprou foram roubadas.
"Não tem jeito, tenho que usar um
carro", reclama. Um dos poucos que
trabalham com contrato de exclusividade, Plasa conta que já chegou a fazer
13 ações num único dia.
Para os dias mais caóticos, Wilson
Bombini Júnior, 24, lança mão de um
recurso extremo. "Ligo para uma empresa de motoboys e peço um com garupa para me levar a outra emissora."
Patinhos feios
Apesar de serem vistas com certo desdém pelas
emissoras, que não gostam de falar
sobre o assunto, as televendas têm garantido a sobrevivência de alguns canais. Na Rede TV!, o campeão de inserções é o "A Casa É Sua", com 20
minutos por edição, seguido do "Bom
Dia Mulher", com 18.
Uma fonte que prefere não se identificar afirma que 25% do faturamento
da RedeTV! vêm daí. Um sinal disso é
que a emissora deixou de transmitir o
Grande Prêmio da Inglaterra de Fórmula
Mundial, na manhã do último dia 5, para
não sacrificar os anunciantes do "Bom
Dia Mulher".
Diretor de planejamento da agência de
publicidade AlmapBBDO, Hélcio
Emerch diz que essa modalidade de propaganda serve como paliativo à ausência
dos grandes anunciantes, que preferem
investir em horários mais nobres. "Esse
tipo de publicidade pode ser comparado
aos marreteiros [camelôs"."
Para as empresas de televendas, no entanto, o rendimento em nada lembra o
dos ambulantes. A ação custa pouco
-em média R$ 5 mil por dois minutos- e dá resultados imediatos.
"Quando entro no ar, tenho em mente
que preciso fazer o telefone tocar no "callcenter'", afirma Verena. A média de ligações varia muito. "O ibope é importante,
mas não é tudo, o fundamental é o produto ser adequado ao público daquele
programa", diz Salgado.
Alguns dias são tradicionalmente piores. "Na sexta-feira é duro, e, por isso,
costumo ser ainda mais incisiva, pareço
uma feirante", brinca Verena.
O jogo de cintura e a capacidade de improvisação são fundamentais. "O produto mais difícil que vendi foi um kit religioso, com velas e orações. Foi complicado oferecer algo não palpável", conta ela.
Na lista dos produtos mais aceitos, estão os emagrecedores e os planos de capitalização. "As pessoas sonham com
carro, casa própria, e isso ajuda."
Mas os telefones disparam mesmo
quando o inesperado acontece. "Se cometemos alguma gafe, os telespectadores ligam sem parar", diz Salgado, que,
como os colegas, recorre às dálias (papéis com os telefones anotados que ficam atrás das câmeras) para não errar.
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