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ENTREVISTA - VALÉRIA MONTEIRO
'Vulgaridade virou arma'
Cristiana Castello Branco/Folha Imagem
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A jornalista Valéria Monteiro, que voltou ao Brasil com dois projetos: um programa sobre diversidade cultural e o lançamento de produtos |
"Tento enterrar as coisas que me magoaram. Quero deixar a baixaria para trás. A
melhor vingança é viver bem."
Primeira mulher a apresentar o "Jornal Nacional", em 1992, a jornalista Valéria Monteiro, 37, está de volta ao Brasil, depois de nove
anos morando em Nova York com sua filha,
Vitória, 12. Desde que chegou, há cinco meses, ela foi sondada por SBT e Band, mas decidiu dar prioridade a uma produção independente que está tentando viabilizar. Valéria falou de sua saída do Brasil, do trabalho
nos EUA e de seus planos ao TV Folha.
CARLA MENEGHINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Por que você decidiu voltar ao Brasil?
O principal motivo foram os atentados
terroristas em Nova York, que me deixaram muito assustada. Além disso, eu
queria trazer minha filha, a Vitória, para
conviver com as raízes dela. Como ela foi
para lá só com três anos, começou a haver uma distância cultural entre nós.
Houve motivos profissionais?
Lá, eu estava produzindo documentários para o canal Discovery, mas os projetos foram adiados para março, e eu
não queria esperar. Mas isso é detalhe.
Quais são seus planos aqui no Brasil?
Estou trabalhando em duas frentes:
uma de entretenimento, que é um programa de TV, e outra empresarial. Vou
lançar uma marca. Não posso entrar em
detalhes, mas tem muita gente boa, como o Washington Olivetto, envolvida.
Como é esse programa de TV?
É uma produção independente que está sendo apresentada a diversos canais,
aqui e no exterior. É um programa que
mistura informação e entretenimento,
tendo como tema central a comparação
entre culturas diversas. A idéia é gravar
em mais de uma língua, o que limita
muito a participação de outras pessoas.
Eu mesma seria produtora, diretora e
apresentadora. Tenho conversado com
várias redes, como a NBC, a Telemundo
e a Globo. Queremos entrar no ar no início de 2003.
TV fechada ou aberta?
Estou conversando com ambas. Embora não exista tanto espaço para produções independentes na TV aberta, eu
acredito em soluções novas. A busca pela audiência a qualquer preço desestabilizou as TVs abertas. A Globo, por exemplo, tinha audiência por sua qualidade.
Hoje, a competição pelo ibope gera uma
permissividade que coloca em risco a
própria qualidade. Antes da TV a cabo,
havia competição pelo ibope, mas era
secundária. A vulgaridade virou arma
na busca pela audiência.
Onde você trabalhou nos EUA?
Trabalhei no Bloomberg [canal de notícias], na NBC e nessa produtora que fazia documentários para o Discovery.
Também fui correspondente da Rede
TV!, mas não me deram suporte técnico.
Você apresentou o "A Casa É Sua", na
Rede TV!, durante um período...
Eu inaugurei o programa. Voltei para
o Brasil em 2000 só para isso, mas não
deu certo, porque eles modificaram o
programa para esse formato de hoje. E eu
não me sentia preparada para voltar.
Por quê?
Quando eu saí daqui, houve uma série
de eventos que me deixaram muito magoada com o mercado e com a Globo em
especial. Não tinha motivação.
Quais foram os motivos da mágoa?
Passou. Tento enterrar o que me magoou. Quero deixar a baixaria para trás. A
melhor vingança é viver bem.
Você fez o curso de atriz que pretendia?
Fiz sim, dois semestres. Não me aprofundei mais porque tinha de cuidar da
minha filha. Quando larguei o jornalismo
e fiz aquela minissérie, "Incidente em
Antares", foi muito libertador. Sou cheia
de fantasias que quero experimentar. Minhas participações como atriz foram todas sem embasamento. Eu tive curiosidade de entender melhor aquilo.
A TV Globo abre portas lá fora?
Não. Eu recomecei do zero, num lugar
onde ninguém me conhecia. A Globo me
ajudou pelo que aprendi lá dentro, mas lá
fora ninguém sabe o que ela representa.
Não significa nada.
Por que você foi para os EUA?
Tive vários motivos: eu estava apaixonada e queria me casar de novo, com um
americano. Dois ou três anos depois que
me mudei para os EUA, me separei do
Paulo [Bittencourt]. Profissionalmente,
não havia nada que me desagradasse naquele momento. Gostava de apresentar o
"Jornal Nacional", mas tinha chegado o
momento de me distanciar para poder
me reavaliar após oito anos na Globo.
Como foi o início
da sua carreira?
Foi muito duro.
Cheguei à TV Globo de pára-quedas
com apenas 21
anos, era muito
"naive". Em 92,
abri a bancada do
"Jornal Nacional"
para as mulheres.
Tenho muito orgulho disso.
Como foi participar da comemoração de 1.500 exibições do 'Fantástico'?
Foi muito divertido rever meus colegas.
Nove anos se passaram, e o que era duro,
hoje me parece mais agradável.
Desde que voltou, recebeu propostas?
Fui sondada por SBT e Band, mas não
quero nada que atrapalhe meus projetos.
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