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"O ser humano não tem valor"
FREE LANCE PARA A FOLHA
O advogado Leonardo Pantaleão, 30,
entrou com uma representação no Ministério Público da Cidadania do Estado
de São Paulo solicitando a análise do
programa "Hipertensão" e a adoção de
medidas para "coibir provas que ofendam a dignidade humana".
(FD)
Por que o sr. entrou com a representação?
A dignidade é a bússola do direito. As
pessoas reclamam que o ser humano não
tem valor; claro que não tem, se o que vemos todos os dias, nas ruas e na TV, é a
desvalorização humana! Qual a valoração que uma criança vai ter do ser humano depois de assistir a esse tipo de submissão na televisão? Tudo isso é a venda
da dignidade.
Mas os participantes assinaram um termo de compromisso para entrar no programa.
Essa autorização só resguarda os interesses da emissora, já que inibe um pleito
indenizacional. E, se não fosse ela, o programa poderia ser classificado como crime de tortura. Imagine-se amarrada numa cova junto com 300 ratos. Se uma
pessoa me der um documento autorizando-me a matá-la, só por causa deste
documento eu não estaria cometendo
crime nenhum? Esse acordo entre dois
particulares não pode prevalecer sobre
os princípios da ordem pública. Se fosse
assim, eu mesmo criaria as leis para reger
as relações nas quais estou envolvido de
acordo com minhas necessidades.
O que o sr. pretendia quando entrou
com esta representação?
Não quero tirar o programa do ar, só
coibir os abusos. Tem gente que me dá os
parabéns; outros me chamam de louco.
Mas o fato é que milhões de pessoas sentem-se ofendidas com aquelas imagens
veiculadas na TV. A ofensa ao telespectador se evidencia através do sentimento
de mal-estar e indignação de quem assiste. Isso é a exteriorização da ofensa individual.
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