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O DIA SEGUINTE
Participantes amargam a ressaca do "Hipertensão"
Dores na cabeça, ameaça de cirurgia, tratamento médico e gozações na rua estão
no cotidiano do time
dos arrependidos
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FERNANDA DANNEMANN
FREE LANCE PARA A FOLHA
"VOCÊ quer falar do gosto bom
da barata ou do mau gosto do
programa?", pergunta Fábio Nascimento, no início da entrevista. Primeiro vencedor da gincana televisiva "Hipertensão", cujo último programa a TV Globo
leva ao ar hoje à noite, com convidados
famosos, ele ganhou mais do que o prêmio de R$ 50 mil: caiu nas graças de Antônio Carvalho, diretor de Recursos Artísticos da emissora, e ingressou na Oficina de Atores da Globo. "Ele me achou carismático e disse que a casa tem carência
de atores negros", afirma, prestes a comprar uma caminhonete com parte do
prêmio, que, aliás, achou baixo.
"R$ 100 mil seria mais justo. E R$ 1 mil
é mesmo pouco para quem comeu baratas ou ficou deitado numa cova com 300
ratos, mas não venceu", diz ele, referindo-se à gratificação de participação oferecida pela emissora aos derrotados.
Foi o caso da modelo Cristiane Oliveira, 23, que não esconde seu arrependimento. Ela se machucou na prova em
que, de cima de um jet-ski a 60 km/h, tinha que saltar para um helicóptero em
movimento. "Vi estrelas debaixo d'água,
rodei, só lembro da pancada e da dor.
Eles me resgataram rápido e pediram
que eu não mexesse as pernas. Ainda sinto dores no pescoço e na cabeça", disse
ela ao TV Folha, cerca de um mês após a
gravação do programa, exibido em 14 de
abril. Preocupada, a Globo está pagando
todos os seus exames médicos, inclusive
o eletroencefalograma a que terá que se
submeter.
O professor Otaviano Heleni, do Instituto de Física da Universidade de São
Paulo (USP), explica que, naquelas condições, a água não teria o mesmo efeito
do cimento, ao contrário do que afirmou
o apresentador Zeca Camargo aos participantes antes de começar a prova. "A
água sempre vai impor uma força de resistência ao movimento do corpo que
cai", diz Heleni. "A pessoa se machuca
ou não dependendo da queda. Se a área
do corpo que tocar a água for grande, essa força de resistência também será grande, e ela certamente se machucará", diz.
Cristiane diz que não repetiria a experiência. "Não tinha me dado conta de
que poderia ter morrido ou quebrado a
espinha. Mas é que R$ 50 mil para mim
não são pouco. Eles ainda foram bonzinhos e deram R$ 1 mil. Poderiam não ter
dado nada. Não seria pior?"
Outra que se machucou foi a modelo
Fabyola Fraçois, 30 anos, que ficou com
um "buraco no dedo", como diz, ao ser
arrastada por dois cavalos num caminho
coberto de lama. "O barro tinha umas
pedrinhas minúsculas que comeram a
carne e fizeram um buraco na junta. O
médico disse que, se o tendão inflamar,
vou ter que operar."
Para ela, no entanto, o pior foi encarar
um aquário contendo 25 cobras, no qual
tinha que "pescar" ameixas com a boca, e
onde machucou os joelhos no vidro. "Fiquei com hematomas, batia a cabeça, os
ombros, as pernas e os braços. Fiquei toda roxa. Meus joelhos estão ralados e não
dá para me abaixar." Mesmo assim ela
diz que valeu a pena. "Queria ficar exposta e receber convites. Funcionou, já
fui convidada para posar para duas revistas e para participar de um outro "reality show'", afirma ela.
Outro arrependido é o publicitário Sérgio Araújo, 24. "Jamais pensei que fosse
comer barata. As pessoas perguntam pra
minha namorada como é que ela beija
um cara que comeu minhoca. Só valeu
para quem ganhou. Também acho injusto que os participantes que saíram na
primeira prova tenham ganho o mesmo
cachê dos que comeram barata e foram
eliminados depois", diz.
O ator Créo Kellab, 29, diz que não repetiria a experiência. "É complicado falar o que acho do programa. O que eu
queria falar, não posso", esquiva-se ele,
que está tentando entrar numa das novelas da emissora.
"Felizes" A maioria dos competidores, entretanto, acha que a repercussão vale o sacrifício. O bicampeão mundial de jiu-jitsu conhecido como Malibu,
44, exulta: "Tô até rouco de tanto falar
com as pessoas na rua". Andréa Carregal, 32, inspetora da Polícia Civil, se considera uma vencedora. "Meu chefe avisou que, se eu não me saísse bem, poderia até ser transferida. Mas, depois, disse
que não teria feito o que fiz."
Marcia Cruz, 26, produtora de eventos,
é outra que só queira cumprir as provas.
Campeã, foi uma das que se deitaram
numa cova com 300 ratos. Apesar do estresse, afirma que foi paga para se divertir. "Fui lá só para participar, não pela fama ou pelo dinheiro. Os outros diziam
que só aparecer no programa já valia a
pena. Mas como é que você vai se sujeitar
a coisas que não gosta só para aparecer?"
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