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Dever de casa: brilhar
Rogério Albuquerque/Folha Imagem
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A atriz Débora Lagranda, 10, a Debby da "Turma do Didi" (Globo), é maquiada antes de um espetáculo teatral |
Para um número cada vez maior de crianças, ficar famoso na TV já virou obsessão, mas é preciso ter cuidado porque a brincadeira pode machucar
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PAULA PENEDO
FREE LANCE PARA A FOLHA
PERGUNTE a um grupo de crianças o que elas querem ser quando
crescerem e não se espante se a maioria
responder: "modelo", "atriz", "cantor",
"apresentadora"... A possibilidade de ficar famoso e rico rapidamente faz com
que as outras profissões até pareçam
chatas aos olhos de muitos meninos e
meninas.
Ingra Abdo, 7, conta por que entrou
para um curso de teatro: "Estou aqui para ser famosa e trabalhar na Globo; quero
que todo mundo seja meu fã. Se eu não
for famosa, vou ficar muito triste, não
vou sair de casa, vou achar que ninguém
gosta de mim".
Para o pedagogo Silvio Duarte Boki, 50,
especialista em orientação vocacional,
"isso acontece pelo fascínio pela fama e
porque a carreira artística é encarada como alternativa que não exige dedicação
escolar maçante".
Num momento em que o programa
"Gente Inocente" (Globo) está selecionando crianças para compor seu novo
elenco, muitas sonham com a fama de
Pedro Malta, 8, que interpreta o Lipe da
novela das 18h, "Coração de Estudante".
Ele confirma que o sucesso é gostoso: "É
bom ser outras pessoas e ter fãs".
Sua mãe, Maria Salete Malta, 50, porém, zela para que o filho não confunda
sua vida com a do personagem. "Ele tem
cabeça boa para entender essas coisas. Só
o que me preocupa é o fato de ele não estar tendo uma infância comum."
Nem um pouco comum. Pedro dedica
cerca de três horas diárias, seis vezes por
semana, às gravações e costuma levar livros e cadernos para o estúdio. "O trabalho é cansativo, mas estou fazendo o que
gosto", afirma Pedro.
Crescimento Manter o sucesso
quando chega à adolescência é outro desafio para quem começa cedo. A atriz Carolina Pavanelli, 15, que, aos seis, estrelou
a novela "Sonho Meu", da Globo, está fora da TV desde 2000, mas não desistiu da
carreira. "Estou numa fase difícil pra arrumar personagem. Lá na TV, eles me
avisaram que seria assim. Acho que
quando eu tiver 16, 17 anos, vai pintar papel. Continuo fazendo testes e mandando meu material para produtores."
A mãe de Carolina, Suzana Gomes
Cancio, 47, diz que a filha não está sofrendo com a falta de exposição: "Na cabecinha dela, sua ausência da TV é apenas temporária".
A mãe de Débora Cristina Lagranda,
10, que há quatro anos é a Debby da
"Turma do Didi" (Globo), afirma que
tenta preparar a filha para um possível
fim repentino de sua carreira. "Sabemos
que a TV tem um mecanismo que envolve não só talento, mas também sorte e
conchavo. Sempre tivemos a preocupação de ensinar que ela poderá seguir outros caminhos", diz.
Incentivo O apoio dos pais é importante, mas muitos forçam a barra para
que a criança se torne um astro. "Até os
14 anos, os números e imitações que a
criança faz devem ser encarados como
brincadeira. Só mais tarde ela vai confirmar ou não se é isso o que quer", diz o pedagogo Boki.
Para a diretora-geral do "Gente Inocente", Cininha de Paula, dá para perceber quando a criança busca a carreira artística por vontade dos pais. "Quando assisto aos vídeos de teste, ficam evidentes
os candidatos que fazem uma apresentação mecânica, perfeita de tanto a mãe ensaiar", diz
Beto Silveira, professor de teatro há 32
anos, também já conhece esse tipo de
aluno: "Cheguei a tirar um menino da
aula porque ele não gostava de fazer as
atividades, dizia que só estava lá por vontade da mãe, que, provavelmente, queria
resolver suas frustrações".
Colaborou CARLA MENEGHINI,
da Reportagem Local
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