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Documentaristas contam suas aventuras em busca das mais belas imagens da televisão
TV ANIMAL
Dereck Joubert/National Geographic
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Documentaristas do National Geographic desligam a câmera para observar o elefante
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Roberto Werneck/RW Video
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Captação de imagens de "As Baleias Jubarte", de Roberto Werneck e Paula Saldanha
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FERNANDA DANNEMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
DEPOIS de dois dias filmando apenas os olhos dos crocodilos num
pântano indiano onde havia aproximadamente 200 deles, o especialista Brady
Barr, responsável pela série "As Aventuras do Dr. Croc", atualmente em sua segunda temporada no canal pago National Geographic Channel, decidiu tomar
uma atitude drástica: entrou na água.
"O pântano estava escuro por causa da
vegetação, e o guia advertiu para a rapidez do ataque. Armamos o equipamento, e, quando a água estava até os joelhos,
um crocodilo veio de onde eu menos esperava e mordeu minha panturrilha direita. A dor foi lancinante, mas consegui
sair dali antes de me transformar no lanche da tarde", diz Barr, que também já foi
atacado por várias cobras -entre elas
uma anaconda.
Garantia de audiência nos canais pagos
National Geographic, Discovery Channel e Animal Planet -que não divulgam
seus números- os documentários sobre o ecossistema na TV paga têm, na
maioria do seu público, pessoas com
mais de 18 anos e da classe média/alta.
Na Cultura, único canal aberto a ter um
programa especificamente nessa linha, o
"Planeta Terra", a audiência registra média de quatro pontos (cada ponto equivale a 47 mil domicílios na Grande SP) e é
formada em aproximadamente 50% pela classe C.
Com orçamentos variando entre US$
500 mil e US$ 2 milhões, esse tipo de documentário é uma perigosa aventura para as equipes, que passam de semanas a
anos atrás das imagens.
A série "África Selvagem", co-produção da inglesa BBC e do Discovery Channel, veiculada pela Cultura em janeiro e
fevereiro deste ano e que terá nova temporada no segundo semestre, é um
exemplo de megaprodução: consumiu
1.500 rolos de filme, percorreu 22 países
desbravados em 53 viagens, durou 18
meses e envolveu 140 cientistas, 26 cinegrafistas e 16 produtores.
"SuperCroc", do National Geographic,
com Brady Barr -do "Dr. Croc"-, custou US$ 2 milhões e levou quase dois
anos para ser produzido, na Índia, Austrália, Costa Rica, África e nos EUA.
Aventura
Para o produtor Andrew
Murray, 35, que integrou a equipe do
"África Selvagem", o pior lugar para trabalhar é a floresta tropical, embora no
deserto a temperatura seja superior a 45
graus. "Elas são escuras e úmidas, e para
filmar acima das copas, onde a luz é boa,
temos que subir com a câmera a 60 metros acima do solo", diz ele.
Segundo Murray, ser "forasteiro" em
ambientes hostis é um dos grandes riscos
do seu trabalho."Os fungos estão a um
palmo da lente da câmera, e as doenças
são um problema para nós. Às vezes, nos
sentimos explorados por insetos", diz
ele, lembrando que as dificuldades de locomoção também são extremas. "Para
chegar a alguns lugares, a viagem leva
mais de uma semana mesmo com carro,
avião e canoa", afirma.
Produtor do programa "Jeff Corwin
em Ação", do Animal Planet, Jud Cremata, 35, diz que seu trabalho é "exaustivo".
"Acordamos às 4h e trabalhamos até a
madrugada seguinte. Como os animais
dormem à tarde, nós dormimos também, se a temperatura for suportável. Temos um dia de descanso para cada dez
de trabalho."
No processo de captação das cenas, a
equipe caminha silenciosamente pela
selva, e todos pisam nas pegadas do primeiro da fila, para evitar as cobras. Mas
Cremata diz que não há regras. "Há dias
em que corremos feito loucos atrás de
um animal, como fizemos com um tamanduá-bandeira que encontramos:
corremos, filmando, até que o tamanduá
ou nós mesmos cansássemos."
Pesquisa
Os preparativos começam
meses antes das viagens. Dirk Hoogstra,
supervisor de produção do Discovery
Networks International, afirma que pesquisa é a "palavra-chave".
"Raramente partimos para uma expedição sem as melhores informações possíveis. Também é fundamental contratar
alguém que conheça o processo de passar o equipamento na alfândega do país
para onde iremos."
Segundo Hoogstra, é impossível dizer
o tempo médio de filmagem. "Já trabalhei em projetos de três e de 12 semanas;
alguns levam até anos", afirma ele, que
nunca foi atacado por nenhum animal.
"Mas achei que fosse morrer nos oito minutos em que filmei na cabine do helicóptero que ergueu um mamute da
permafrost [camada de solo quase impermeável impregnada de gelo] na Sibéria.
Foram oito longos minutos", relembra.
Jud Cremata, da equipe de Jeff Corwin,
lembra que conseguir permissão para filmar pode levar meses. "Já aconteceu de
conseguirmos um dia antes de a equipe
entrar no avião", diz.
Para Brady Barr, o especialista em crocodilos, é fundamental ter guias locais. "O público nos vê como Indiana Jones, e fico
irritado com esse clichê pouco científico.
Sem o apoio dos nativos -que nos ensinam quais os cuidados a tomar-, meu
conhecimento científico não adiantaria
nada", diz Barr.
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