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Táticas de guerra
Lalo de Almeida/Folha Imagem
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Homem assiste o pronunciamento de George W. Bush em loja de eletrodomésticos de São Paulo |
FERNANDA DANNEMANN
RODRIGO RAINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
EM TEMPOS de guerra, a programação das emissoras de TV se
transforma num território sem lei: até
um jogo da Copa Brasil, transmitido ao
vivo pela Record, foi invadido, no último
dia 19, quando o conflito no Iraque foi
deflagrado. Palmeiras e Criciúma saíram
de cena para dar lugar a um flash de quatro minutos sobre os ataques.
O flash, aliás, é a grande arma dos canais na guerra da audiência. Na Gazeta,
mais de 50 foram mostrados em uma semana. Curto por definição, ele atinge,
num momento como este, proporções
impensáveis, como aconteceu no dia 21,
quando a Globo veiculou o seu boletim
mais longo até agora: 18 minutos.
Na Cultura, a primeira a exibir imagens dos bombardeios, graças ao convênio com a lusitana RTP, a ordem é não
exagerar. "Essas cenas viraram rotina.
Não queremos mostrar a guerra de forma sensacionalista", afirma Marco Antônio Coelho, diretor de jornalismo.
Na sexta, 21, porém, quando Bagdá foi
atacada, mais de 70% do "Jornal da Cultura" foram dedicados ao conflito. Na
Band, o percentual foi de 90% e, atualmente, oscila entre 60% e 80%. "A guerra
e o Datena aumentaram nossa audiência", afirma o diretor Fernando Mitre.
Na Globo, o "Jornal Nacional" teve edição de uma hora no dia 20, e até a novela
"Mulheres Apaixonadas" foi invadida
pelos bombardeios.
Subida
O canal pago Globo News,
24h por dia no ar, vem registrando um
aumento de telespectadores desde dezembro. Em fevereiro, quando a guerra
já era iminente, teve o dobro da audiência registrada no mesmo mês do ano
passado. "A medida da nossa cobertura é
dada pelo interesse do público e pela dimensão do fato", informou a emissora.
Para segurar o telespectador, o canal se
voltou inteiramente para a cobertura do
conflito, alterou horários de estréias e
cortou programas gravados.
No BandNews, a tática também é não
dar tempo para os telespectadores mudarem de canal. "Nossa audiência triplica em eventos trágicos, por isso até derrubamos os intervalos", diz Humberto
Candil, diretor de jornalismo do canal.
Na TV aberta, a programação oscila ao
sabor dos bombardeios. Na Band, o
"Diário da Guerra" (22h), apresentado
por Roberto Cabrini, criado para ser um
programete de dez minutos, ficou no ar
por quase cinco horas no dia 19, quando
estreou. Graças aos picos de 12 pontos,
virou um programa com 20 minutos de
duração (cada ponto equivale a 47 mil
domicílios na Grande SP).
"Há a possibilidade de eu viajar para o
Iraque, e uma idéia seria fazer o programa de lá", diz Cabrini. A Rede TV! se antecipou e mandou na semana passada
dois jornalistas para o Oriente Médio.
Tarde bélica
Nem os programas
de fofoca resistem. Na tarde do dia 20, a
Band armou-se de José Luis Datena, que
invadiu o "Melhor da Tarde" e o "Hora
da Verdade" e ficou em segundo lugar na
audiência das 15h às 19h40.
No dia seguinte, a Rede TV! foi à forra e
atacou com Marcelo Rezende, que turbinado com 45 minutos a mais no "Repórter Cidadão", mostrou os pronunciamentos dos chefões das tropas americanas. Resultado: foi sua vez de ficar em segundo lugar na audiência e, com isso, até
as pegadinhas de João Kléber tiveram
menos espaço.
No mesmo momento, convocado às
pressas, Datena mais uma vez entrou em
cena no "Melhor da Tarde", na Band, e
elevou o ibope de 2,2 para 3,4 pontos em
menos de cinco minutos.
À noite, depois que Luciana Gimenez
pulou de seis para oito pontos de média
por mostrar o conflito, a Record quer
que Adriane Galisteu aborde o assunto:
ela mostrará reportagens e transmissões
ao vivo até o final da guerra.
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