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MERCADO
Fábricas como Troller, Lobini e Matra vivem de suprir as brechas de mercado deixadas pelas grandes montadoras
Nichos dão vida a "artesanato automotivo"
DA REDAÇÃO
Sem a obrigação de "agradar a
gregos e troianos", que delimita a
criatividade dos engenheiros das
grandes montadoras multinacionais, alguns empresários automotivos brasileiros estão aproveitando nichos de mercado que não
são ocupados nem por gregos
nem por troianos.
É o caso da Lobini, empresa que
mira os consumidores que admiram esportivos de luxo, mas que
não teriam dinheiro para comprar uma Ferrari nem pelo sistema de consórcio.
Esse era o plano original. Mas a
coisa mudou. "Nossos clientes
são colecionadores e apreciadores
de carro. Os que já reservaram um
Lobini têm Porsche, Ferrari ou os
dois", conta Eduardo Menga, 50,
diretor-superintendente da empresa baseada em Jarinu (71 km
ao norte de São Paulo).
O número de interessados supera a capacidade de produção da
empresa. Segundo o diretor, há 35
reservas e mais de 20 pessoas na
lista de espera. E não são só consumidores brasileiros que estão
atrás do esportivo.
"Entre as 35 reservas confirmadas, cinco foram feitas por clientes do Reino Unido", conta Menga. O prazo entre a reserva e o recebimento de um Lobini -que
custa de US$ 30 mil a US$ 35
mil- é de cerca de um ano.
Campo
Exportação é um sonho que ainda está longe dos planos da paranaense Matra, produtora da picape que leva seu nome. Robusta, a
princípio ela foi criada para encarar o trabalho duro das fazendas.
"Com o tempo, carros como o
[Toyota] Bandeirante e outros
destinados a esse tipo de usuário
foram sumindo do mercado.
Aproveitei a oportunidade para
desenvolver um modelo baseado
no Mercedes Unimog", conta Nivaldo Rubens Trama, 59, presidente da empresa.
Ele, que é o maior produtor de
soja da região de Buri (252 km a
oeste de São Paulo), diz ter sentido na pele a necessidade de um
veículo como o que hoje fabrica.
"As importadas são caras e não
aguentam esse tipo de trabalho."
Se da observação no campo surgiu a idéia, foi nas pistas que Trama aprendeu o bê-a-bá automobilístico. E o professor foi ninguém menos que o tricampeão de
F-1 Nelson Piquet, com quem o
então agricultor dividia uma
equipe de preparação de carros.
Com base nas vendas, o empresário acertou ao estimar seu público. Em geral, são fazendeiros,
mineradores e, na área urbana,
empresas distribuidoras de gás e
supermercados, por exemplo.
"Muita gente considera nosso
carro feio. Concordo, e isso é até
proposital", admite Trama. "Não
produzimos uma picape pequena
que, no final das contas, presta-se
mais à cidade que ao campo."
Mas isso não impede que, nas
próximas versões, o modelo ganhe itens de conforto como ar-condicionado. Por enquanto, o
que impera é a simplicidade.
Vendida por preços que começam em R$ 41 mil, a picape é vendida sem a caçamba, tem versões
com cabine dupla ou estendida e
pode ser equipada com tração integral ou 4x2.
Aventura
O maior sucesso recente desse
setor quase artesanal da indústria
automobilística brasileira é o jipe
Troller, que já conta cerca de
3.000 unidades circulando pelas
ruas e trilhas do país.
Assim como os idealizadores da
Lobini, a fábrica cearense atirou
no que viu e acertou no que não
viu. "No início, pensávamos em
produzir um veículo para profissionais liberais e executivos que
estivessem em busca de um pouco de aventura", destaca Clecio
Antonio Eloy, 38, diretor-executivo da empresa.
Hoje, o carro seduz jovens
-endinheirados, pois os preços
começam acima da casa dos R$ 50
mil- urbanos. Segundo o diretor, os primeiros proprietários do
jipe o utilizavam como terceiro
carro da família.
"Mas, em São Paulo [que consome 35% da produção mensal de
30 jipes da Troller], as pessoas começaram a usar o veículo para
driblar o rodízio. Passaram a gostar da altura, do conforto de carro
de passeio e adotaram o Troller
como primeiro carro."
Para os executivos da empresa,
seus maiores concorrentes não
são outros jipes. Eles consideram
que os possíveis consumidores de
Troller hoje estão rodando em picapes com tração integral.
"Na nossa avaliação, há muita
gente comprando picapes, apesar
das caçambas, que, na maioria
dos casos, só servem para quebrar
o galho dos amigos e levar a geladeira deles até a casa de praia. É
esse o público que a gente quer."
(EDSON FRANCO E LUÍS PEREZ)
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