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HABILITAÇÃO
Para instrutores de pilotagem, alunos não aprendem as manobras básicase arriscam a sua vida e a dos outros
Especialistas reprovam auto-escola
ARMANDO PEREIRA FILHO
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
A maioria dos motoristas e motociclistas recém-habilitados chega às ruas sem conhecimentos básicos dos veículos e do trânsito,
colocando em risco a sua vida e a
dos outros. Não sabem frear, fazer
curvas, dirigir na chuva nem mesmo segurar o volante direito.
A avaliação é de especialistas em
direção, que apontam falta de interesse e responsabilidade dos
condutores, deficiência da legislação e falhas de auto-escolas
-agora chamadas de Centros de
Formação de Condutores
(CFCs)- como principais responsáveis pela situação.
Segundo o instrutor de pilotagem Luiz Fonseca, 44, uma grande omissão do aprendizado entre
os jovens motoristas é que não sabem como se portar em trânsito
pesado. "Eles são preparados para
dirigir sozinhos na rua. Durante
as aulas práticas, só circulam por
vias tranqüilas. É raro andarem
em avenidas", afirma.
Ele atribui isso ao fato de os exames para obter a carteira não exigirem mais. "O circuito para
aprovação se resume a umas duas
ou três voltas num quarteirão."
Para Leandro Paixão, 25, diretor-operacional da No Risk Company Protection, que também dá
aulas de pilotagem de carros e
motos, os alunos são treinados só
para passar no exame.
"Aprendem a fazer baliza, a respeitar a sinalização, a ligar a seta.
Na verdade, não sabem como vão
sobreviver na rua. Saem se arriscando, aprendendo no dia-a-dia."
Conforme sua visão, faltam conhecimentos básicos. "Não sabem segurar no volante nem ajustar o banco. Muitas pessoas não
conhecem a técnica de frenagem,
principalmente em pista molhada, com areia, óleo, buracos e costelas-de-vaca."
Mais aulas
Fonseca considera pequena a
carga horária das aulas práticas.
Pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), os alunos devem fazer
15 horas de direção e 30 horas de
estudos teóricos.
A parte teórica tem conteúdo
"muito bom" na avaliação do instrutor, mas é "desatualizada" no
capítulo de direção defensiva.
"Tem informações e metodologia
dos anos 70, e não usa números
para mostrar os riscos de uma frenagem a 100 km/h, por exemplo."
Kasuo Sakamoto, 52, consultor
de trânsito, ex-diretor do Denatran (Departamento Nacional de
Trânsito) e ex-presidente do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), na época da aprovação do
CTB, em 1997, diz que os motoristas precisam ser preparados para
dirigir em estradas.
"É necessário aperfeiçoar essa
formação. Alguns podem dirigir
bem na cidade, mas não têm o mínimo preparo para situações de
emergência em rodovias."
Ele aponta um erro comum nas
estradas: frear o carro enquanto
estão sendo feitas curvas -o que
pode ser facilmente observado
porque as luzes de freio se acendem. Para Sakamoto, o preparo
teórico está melhor que o prático.
Roberto Manzini, 48, psicólogo
e diretor do centro de pilotagem
que leva seu nome, considera que
a culpa não é das escolas. "Elas
cumprem o que manda o código.
Estão fazendo o papel delas."
Mas isso não significa que seja
suficiente. Quem o procura não
sabe dirigir em condições adversas (chuva, neblina), fazer ultrapassagens ou curvas em rodovia
nem frenagens de emergência.
Motocicletas
As deficiências se expressam de
maneira mais grave ainda com
motos, por serem bem mais vulneráveis a acidentes.
Shoichi Kado, 48, instrutor de
pilotagem de moto "off-road" da
escola Radical Sport e ex-chefe do
Centro de Pilotagem Honda
(1981-1993), diz que falta segurança. De acordo com o instrutor,
ninguém ensina como frear, como se posicionar na moto, como
fazer desvios de emergência e como se portar no trânsito.
Segundo Leandro Paixão, os limites variam conforme a moto, e
o condutor precisa conhecer direito sua máquina. Para isso, deve
treinar em áreas fechadas.
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