São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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AROMA

Apesar de seduzir clientes nas revendas, fragrância vem sendo combatida pelos laboratórios de algumas montadoras

Cheiro de novo sofre ameaça de extinção

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Direção hidráulica, airbag, ar-condicionado, trio elétrico e cheiro de novo. Este último é um dos "opcionais" que mais agradam ao comprador de um carro zero-quilômetro, na avaliação das próprias montadoras.
Mas essa característica, que chega até a incentivar as vendas, está com os dias contados. Há laboratórios de montadoras estudando como deixar o interior do veículo o mais inodoro possível.
A globalização exige que os carros possam ser vendidos em qualquer país sem nenhum tipo de cheiro aparente, explica a química Maria de Lourdes Feitosa Di Franco, coordenadora do Centro Tecnológico de Emissões da Volkswagen, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo).
A General Motors do Brasil também busca retirar o cheiro dos seus modelos. A justificativa é que o odor, proveniente de substâncias químicas, poderia causar alergias em pessoas sensíveis.
O médico Arthur Guilherme Bettencourt Augusto, secretário-adjunto da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, discorda. Segundo ele, o cheiro de carro novo não faz mal à saúde.
"Mas um aroma agradável para um pode ser desagradável para outro. As pessoas com predisposição alérgica podem ser afetadas." Ele aconselha a quem tiver alguma reação alérgica procurar um especialista. "A solução é simples em boa parte dos casos."
A psicóloga Sandra Spiri, pre- sidente da Abraroma (Associação Brasileira de Aromaterapia), também afirma que o cheiro de carro novo não oferece riscos. O odor apenas mexe com o consciente, ele gera uma sensação de conquista, poder e prazer."
Sandra avalia que não há como reproduzir o aroma de carro novo, somente o seu efeito de bem-estar por meio de fragrâncias. "As de frutas cítricas, de lavanda, de baunilha e de ylang ylang (extraída de uma planta de Ma- dagascar, na África) transmitem o mesmo tipo de sensação."

"Faro"
Incentivador da assinatura de cheques, o aroma de novo é resultado da combinação de produtos como plástico, borracha, tecido, madeira e tinta. Sobre esse conjunto, as fábricas que ainda investem no olfato se debruçam para descobrir o que mais agrada ao "faro" do cliente.
"O cheiro de novo exerce um efeito psicológico muito grande no consumidor. A gente se preocupa até com o líquido do limpador de pára-brisa, pois o odor dele chega ao interior do automóvel", conta o gerente de produtos da Renault, Mário Furtado.
A montadora francesa revela que já pesquisou fragrâncias para usar nos seus modelos, mas sem resultados definitivos.
Por sua vez, a Ford do Brasil informa que não faz nada para realçar o cheiro de novo nos seus carros e que aposta só nos materiais para produzir o aroma sedutor.
Nem parece que a Ford dos EUA é dona da Jaguar, fábrica inglesa que leva o assunto cheiro tão a sério que chega a criar o gado que fornecerá o revestimento de couro dos bancos. Os animais pastam numa fazenda da empresa em Connoly, na Suíça.
(ALADIM LOPES GONÇALVES)


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