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Publicidade substitui potência por status
Carros com tecnologia semelhante modificam os conceitos comerciais
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não é de hoje que os veículos
participam de arriscadas missões. Na década de 70, o Ford
Corcel foi usado para salvar
uma mocinha em apuros na linha do trem, e sua perua, a Belina, foi essencial na fuga de um
condenado. Já a irreverência
do Volkswagen Fusca incomodou o ministro da Fazenda.
Tudo isso aparecia na publicidade numa época em que
eram poucas as marcas à venda
no Brasil. Porém, além da multiplicação de opções, a evolução tecnológica -que faz com
que os modelos de um mesmo
segmento tenham tecnologia
parecida- deixou as equipes
de criação das agências de publicidade de cabelo em pé.
Mas é evidente que, do Chevrolet Chevette no meio do
mato a Jack Bauer dirigindo
um Citroën C4 Pallas na avenida Paulista, muito mudou.
Os primeiros anúncios se limitavam a grandes fotos do
carro, indicando seu nome e o
motor. O texto era mais informativo, mas pouco atraente.
Na década de 60, surgiu a
preocupação de cativar o público com mensagens mais inteligentes e até provocativas. "Os
carros não tinham tantos recursos, mas tirávamos leite de
pedra", lembra o publicitário
da agência SPGA, Alex Periscinoto, que trabalhou com a publicidade da Volkswagen do
Brasil durante 40 anos.
As campanhas ajudavam a
fazer do Fusca o líder de vendas, e o Brasil aprendia a fazer
propaganda de carro. Expressões como "lave e use" ressaltavam a durabilidade, enquanto
"cheque ao portador" indicava
um bom valor de revenda.
"Vendíamos um conceito."
Outra recordação de Periscinoto é um telefonema do então
ministro da Fazenda Delfim
Netto (1967-1974), que reclamou da frase "Invista em algo
que não vai quebrar" quando
houve problemas com a poupança e a inflação.
Mas, de um modo geral, os
publicitários levam em conta
três fatores para atrair o cliente: performance, design e valor
de revenda, conceitos que nem
sempre sobrevivem com o aumento da concorrência.
Para o publicitário Rodrigo
Corbari, da equipe de criação
da Euro RSCG Brasil, hoje as
propagandas vendem muito
mais o desejo de compra que os
atributos do veículo. "Os carros
são muito parecidos, e não
adianta mais dizer a potência
ou os recursos, temos de mostrar o status que ele traz."
Segundo o publicitário,
atualmente, para ganhar a fidelidade do cliente, divulga-se
mais a marca que o modelo.
"Temos de trabalhar uma espécie de aura em torno da marca,
descrever como a pessoa vai ser
vista quando comprar o carro,
principalmente no caso das
empresas que estão estabelecidas há pouco tempo no país."
Tecnologia
Não bastasse o brilho dos astros, novos recursos tecnológicos também estão mudando a
cara das campanhas. A Fiat foi
buscar em Los Angeles ferramentas para deixar mais fora-de-estrada o cenário do comercial da Palio Adventure.
Os "ferozes" animais que cercam a perua são robôs feitos
sob encomenda pela americana
Animal Makers, que contribuiu
com grandes produções do cinema, como "Piratas do Caribe" e "Inspetor Bugiganga".
Já a Audi trilhou um caminho mais simples, mas inédito.
Ao abrir a página onde está estampado um R8, o leitor vê o
pisca direito piscar. O texto diz
que ultrapassagem é um "item
de série" no modelo esportivo,
de 420 cavalos.
"O ineditismo utilizado está
ligado à própria Audi, que fabrica carros com alta tecnologia",
justifica o gerente de marketing da marca, Felipe Gomes.
(RICARDO RIBEIRO)
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