|
Próximo Texto | Índice
Manutenção econômica
Trocar uma peça é mais barato que consertá-la após outras terem sido comprometidas; cuidado ainda reduz trânsito
FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL
ROSANGELA DE MOURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Poucas pessoas no mundo
são tão cuidadosas com o carro
como o engenheiro Márcio Lopes, 65. Entre sua casa, na Tijuca (zona norte do Rio), e seu
trabalho, há 6.700 metros, e ele
nunca foi de carro. "Deus me livre. Na volta, pode chover", explica, sem titubear.
Os pneus até já ressecaram,
mas pouco importa. "Troquei
por um jogo novo, está com "pelinho"." Seu Volkswagen Santana, com 15 anos de uso, ainda
não atingiu 15 mil quilômetros.
Na garagem, Lopes guarda
outra relíquia -um Honda Civic 2000, que marcava, há poucos dias, 2.727 quilômetros.
"Não sei como as pessoas ligam o carro e já vão saindo. Eu
espero o óleo circular pelo motor e pela caixa do câmbio",
conta Lopes, que guarda todas
as notas fiscais de gasolina desde que comprou os carros.
Rodar tão pouco pode ter
conseqüências como ressecar
borrachas e enferrujar o tanque de combustível. Para problemas, Lopes conta com Onofre Bonifácio da Costa, um
"mecânico ano/modelo 1935".
Tanto esmero é uma raridade, como mostra uma pesquisa
feita em São Paulo em 2007.
Todos os 2.111 carros vistoriados tinham problema em 1 dos
23 itens analisados pelo GMA
(Grupo de Manutenção Automotiva), criado por sindicatos
de autopeças e de reparadores.
Desde o ano passado, o GMA
colocou São Paulo numa campanha mundial e estabeleceu
junho como o mês da conscientização pela manutenção preventiva. Segundo Antônio Carlos Bento, coordenador do
GMA, custa menos prevenir
um problema que repará-lo.
A correia dentada do motor,
por exemplo, deve ser trocada a
cada 50 mil quilômetros e custa, em média, R$ 400. Esse valor pode quadruplicar se a correia arrebenta e prejudica as
válvulas de admissão e de escapamento e o cabeçote.
"O norte-americano gasta,
em média, US$ 1.000 [R$
1.600] por ano com a manutenção do veículo, e o brasileiro, R$
900, basicamente com a troca
do óleo", compara Bento.
Engarrafamento
Para Sérgio Pinto, chefe do
centro de treinamento da
Bosch, a questão da manutenção preventiva é cultural. "O
brasileiro não acredita que está
investindo na sua segurança e
na dos outros. Sempre se questiona: "Vou gastar dinheiro no
meu carro de novo?'".
Muitos dos que fazem a manutenção, diz Pinto, só consertam o que realmente incomoda
no carro. "Se ele [veículo] está
"engasgando", por exemplo, logo levam ao mecânico. Mas, no
amortecedor, só mexem se está
fazendo barulho, já com o óleo
vazando e os batentes da suspensão estourados."
Talvez por isso a CET-SP
(Companhia de Engenharia de
Tráfego) socorra, por dia, 407
veículos quebrados em São
Paulo: 54% têm falhas mecânicas, e 20%, pane elétrica.
A CET-SP calcula que um
carro enguiçado por 15 minutos
numa via movimentada, como
a marginal Tietê, gere 3,5 quilômetros de engarrafamento. Fazendo as contas, dá para entender o porquê de 266 quilômetros de congestionamento registrados no início de maio.
Próximo Texto: Modo de rodar determina vida útil de peça Índice
|