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REPOSIÇÃO
Vindas da Ásia e de países da ex-URSS, peças falsas aumentam o consumo e provocam acidentes
Piratas invadem motor e suspensão
JOSÉ AUGUSTO AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Acostumados aos CDs pirateados, os brasileiros estão enfrentando -muitas vezes sem saber- uma outra onda de falsificação. Desta vez são as autopeças,
que causam prejuízos de US$ 20
bilhões a cada ano aos fabricantes.
Atraídos por preços bem mais
baixos, os motoristas podem gastar até 20% mais combustível, deixar o carro com uma potência
20% inferior ou sofrer acidentes.
"Muitas vezes culpam o motorista por um acidente, mas a causa
é uma peça falsificada", avalia Pedro Mochetti, diretor-geral da
ABCF (Associação Brasileira de
Combate à Falsificação). Ele
exemplifica com um rolamento: a
peça aquece, funde e, em uma
curva, o motorista perde o controle do veículo. Some-se a isso a
baixa qualidade das estradas.
Mas as consequências dependem de qual peça falsificada equipa o carro. Uma lâmpada com potência alterada -as ilegais são
mais potentes que o permitido-
pode colocar fogo no carro. "A
corrente é mais forte do que aquela que o carro suporta", explica
João Paulo Borgonove, gerente
nacional de vendas da Philips.
Catalisador
Um milímetro pode não parecer
nada, mas, no caso das lâmpadas,
causa até acidentes. O facho de luz
é emitido por meio de um jogo de
espelho. Fora de seu lugar, ele pode jogar a luz nos olhos de quem
vem no sentido oposto ou no
acostamento, perdendo completamente sua função.
A diferença de preço acaba rápido. Uma lâmpada original custa,
em média, R$ 10. As asiáticas
-China, Índia e Coréia do Sul
são os principais fornecedores-
saem por R$ 4. Mas a original dura, segundo Borgonove, 700 horas, enquanto as falsificadas ficam
acesas por apenas quatro horas.
Também sente no bolso quem
usa catalisador falso. Segundo
Carlos Eduardo Moreira, gerente
de marketing da Umicore, o gasto
de combustível aumenta até 20%,
e a potência cai na mesma proporção. "Sem o catalisador, o carro fica sem a sonda lambda. Ela
mede o oxigênio que sai pelo escapamento e "diz" que a injeção
eletrônica tem de se ajustar."
Moreira conta que poucos consumidores conhecem um catalisador, o que facilita a disseminação das peças falsificadas. As lojas
de reposição pagam R$ 30 pelo
item usado, que é encaminhado
para reciclagem. Acabam caindo
em fábricas de fundo de quintal.
Elas deixam a carcaça vazia ou colocam palha de aço no interior.
Desde 1991, 13 milhões de veículos saíram de fábrica com catalisador. Calcula-se que 3,5 milhões
rodem sem o item, aumentando a
poluição. "Por ano, são trocados
300 mil, mas nem 10% são originais", conta Moreira.
Parece, mas não é
Outro problema no mercado de
reposição são embalagens semelhantes às originais. É o que acontece, por exemplo, com as palhetas da Bosch. "Além disso, a qualidade do produto é bastante inferior. Nós usamos borracha importada no original", afirma Carlos Barbosa, gerente de vendas
para reposição da empresa.
No caso dos catalisadores, o
"parece, mas não é" é mais difícil
de ser identificado. "A aparência
[do falsificado, oco] é de original.
O nome do fabricante continua
lá", alerta o gerente da Umicore.
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