São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Preço justo" ajuda projetos sociais

Saiba como maneiras solidárias de comprar e vender unem consumo ao desenvolvimento social

DA REPORTAGEM LOCAL

O carrinho de supermercado é a urna: quem escolhe um produto de comércio justo "vota" por benfeitorias nas comunidades dos pequenos produtores.
Em Itápolis, interior de SP, de cada tonelada de suco vendido, US$ 100 vão para projetos sociais, como a manutenção de duas escolas de informática e as aulas de reforço escolar para filhos de agricultores.
Para ter direito a essa remuneração extra, chamada "prêmio", que é somada ao preço mínimo do produto, garantido a quem o faz, as organizações dos agricultores precisam demonstrar às certificadoras do comércio justo que têm uma estrutura transparente e democrática, com todos decidindo sobre como usar o dinheiro. Tanto o "prêmio" quanto o "preço justo" (valor mínimo pelo qual o produto é vendido) são determinados por um comitê da Fairtrade, formado por certificadoras e produtores, que analisam a cadeia produtiva de cada mercadoria.
Por enquanto, são apenas alguns gêneros agrícolas e seus derivados que podem levar o selo. Outros itens, como artesanato, até cumprem as condições do comércio justo, mas ainda não há metodologia que possa atestá-los. Nesses casos, os produtores podem obter um selo de certificadoras como a IFAT (International Fair Trade Association), que dão aval a organizações de comércio justo. Já a outra grande certificadora, a FLO-Cert, ligada à Fairtrade, verifica produtos.
"O comércio justo é uma maneira de expandir o negócio até que a pessoa possa se estabelecer", diz Irina Pereira, analista do Sebrae-SP, entidade que ajuda os produtores a conhecer as demandas do mercado e encoraja a formação de associações e cooperativas. Irina trabalha com um grupo no município de Rio Grande da Serra (SP), que produz artesanato a partir de matérias-primas vegetais, sacolas de fibra de bananeira e cachaça de cambuci.
A fruta, típica da região, quase não tinha valor: donos de bares pagavam aos produtores R$ 50 por uma colheita inteira (ou R$ 0,05 o quilo). Hoje, a Cooper Cambucy da Serra recebe R$ 2 pelo quilo da fruta.
Além do cambuci curtido na cachaça, a cooperativa vende a polpa e o fruto inteiro congelado. O grupo começou o trabalho com o Sebrae há dois meses e ainda não tem certificados internacionais, mas já percebe a diferença da mudança de prática. "Nós, produtores, ganhamos mais qualidade de vida, a região está sendo reflorestada e melhorou a renda da comunidade", diz Flávio Lemos, membro da cooperativa.
Em Petrópolis, no Rio de Janeiro, a ONG Onda Solidária começou, em 2004, a trabalhar com oito tecelãs, que produziam 2.000 peças de roupa. No ano passado, o comércio justo já havia "descido" toda a cadeia, chegando também ao cultivo do algodão. Em 2007, 40 mil peças foram exportadas para a França, beneficiando 20 famílias de produtores de algodão e 30 tecelãs. A cooperativa tem a certificação do IFAT e está prestes a obter o selo da FLO.
"O algodão é uma das culturas mais poluentes que existem. Além disso, é subsidiado nos países ricos, como os EUA. Tem uma simbologia política e ambiental muito forte", diz Ana Aisti, 29, fundadora da Onda Solidária. (CYRUS AFSHAR)


Texto Anterior: O ciclo do outro comércio
Próximo Texto: ONGs e economistas têm críticas ao movimento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.