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"Preço justo" ajuda projetos sociais
Saiba como maneiras solidárias de comprar e vender unem consumo ao desenvolvimento social
DA REPORTAGEM LOCAL
O carrinho de supermercado
é a urna: quem escolhe um produto de comércio justo "vota"
por benfeitorias nas comunidades dos pequenos produtores.
Em Itápolis, interior de SP,
de cada tonelada de suco vendido, US$ 100 vão para projetos
sociais, como a manutenção de
duas escolas de informática e as
aulas de reforço escolar para filhos de agricultores.
Para ter direito a essa remuneração extra, chamada "prêmio", que é somada ao preço
mínimo do produto, garantido
a quem o faz, as organizações
dos agricultores precisam demonstrar às certificadoras do
comércio justo que têm uma
estrutura transparente e democrática, com todos decidindo sobre como usar o dinheiro.
Tanto o "prêmio" quanto o
"preço justo" (valor mínimo
pelo qual o produto é vendido)
são determinados por um comitê da Fairtrade, formado por
certificadoras e produtores,
que analisam a cadeia produtiva de cada mercadoria.
Por enquanto, são apenas alguns gêneros agrícolas e seus
derivados que podem levar o
selo. Outros itens, como artesanato, até cumprem as condições do comércio justo, mas
ainda não há metodologia que
possa atestá-los. Nesses casos,
os produtores podem obter um
selo de certificadoras como a
IFAT (International Fair Trade
Association), que dão aval a organizações de comércio justo.
Já a outra grande certificadora,
a FLO-Cert, ligada à Fairtrade,
verifica produtos.
"O comércio justo é uma maneira de expandir o negócio até
que a pessoa possa se estabelecer", diz Irina Pereira, analista
do Sebrae-SP, entidade que
ajuda os produtores a conhecer
as demandas do mercado e encoraja a formação de associações e cooperativas. Irina trabalha com um grupo no município de Rio Grande da Serra
(SP), que produz artesanato a
partir de matérias-primas vegetais, sacolas de fibra de bananeira e cachaça de cambuci.
A fruta, típica da região, quase não tinha valor: donos de bares pagavam aos produtores
R$ 50 por uma colheita inteira
(ou R$ 0,05 o quilo). Hoje, a
Cooper Cambucy da Serra recebe R$ 2 pelo quilo da fruta.
Além do cambuci curtido na
cachaça, a cooperativa vende a
polpa e o fruto inteiro congelado. O grupo começou o trabalho com o Sebrae há dois meses
e ainda não tem certificados internacionais, mas já percebe a
diferença da mudança de prática. "Nós, produtores, ganhamos mais qualidade de vida, a
região está sendo reflorestada e
melhorou a renda da comunidade", diz Flávio Lemos, membro da cooperativa.
Em Petrópolis, no Rio de Janeiro, a ONG Onda Solidária
começou, em 2004, a trabalhar
com oito tecelãs, que produziam 2.000 peças de roupa. No
ano passado, o comércio justo
já havia "descido" toda a cadeia,
chegando também ao cultivo
do algodão. Em 2007, 40 mil
peças foram exportadas para a
França, beneficiando 20 famílias de produtores de algodão e
30 tecelãs. A cooperativa tem a
certificação do IFAT e está
prestes a obter o selo da FLO.
"O algodão é uma das culturas mais poluentes que existem. Além disso, é subsidiado
nos países ricos, como os EUA.
Tem uma simbologia política e
ambiental muito forte", diz Ana
Aisti, 29, fundadora da Onda
Solidária.
(CYRUS AFSHAR)
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