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Pelos labirintos do consumo
Arquiteto visitou 4 shoppings de SP, analisando os espaços e a comunicação visual; veja o que difi culta a orientação dos visitantes
DÉBORA MISMETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os shoppings são lugares
perfeitos para as pessoas se
sentirem perdidas, especialmente quando estão à procura
"daquela" loja em meio a centenas de outras. Não é difícil andar em círculos, procurando a
saída para o labirinto.
A Folha escolheu quatro
shoppings com estilos e estruturas diferentes em São Paulo,
para testar a eficiência da sinalização e comparar as condições de circulação das pessoas.
A reportagem convidou o arquiteto Carlos Faggin, professor de arquitetura da USP, que
já fez projetos para a construção e reforma de shoppings, para visitar Iguatemi, Interlagos,
Morumbi e Pátio Higienópolis.
Os shoppings são projetados
para estimular o consumo, por
isso não seguem a lógica de um
espaço público comum. Faggin
conta já ter ouvido de um proprietário de shopping que os
corredores deveriam ser organizados de forma labiríntica,
para que o consumidor não
conseguisse sair e, no desespero, comprasse alguma coisa. "O
problema é que quando a pessoa sai, não quer mais voltar".
Para o arquiteto Marco Donini, esse tipo de "armadilha",
com traçados complicados e
revestimentos confusos, pode
ter conseqüências para o sucesso do shopping. "O Eldorado é um exemplo. Ele tentou se
adaptar posteriormente, mas
as pessoas pararam de freqüentá-lo logo no início. Isso o ajudou a se tornar mais popular do
que se pretendia" diz.
Nem todos os shoppings são
labirínticos, mas há sutilezas
notáveis. Em muitos, os elevadores ficam em corredores secundários, longe do centro de
circulação. "Dentro deles, você
não vê as lojas. A circulação por
escadas rolantes é sempre facilitada, e a por elevador é dificultada", diz Faggin.
A sinalização básica, de saídas de emergência e hidrantes,
é seguida. No entanto, as placas
são sempre as mais discretas
possíveis. "Os lojistas não devem gostar de interferências na
sinalização de suas fachadas",
diz. Para Donini, a sinalização
deveria ser mais presente e
menos "chique". "Ela passa
despercebida em meio ao caos
interno de sinalização das lojas. Tenho visto em shoppings
populares, como o Itaquera,
exemplos mais acertados de
acabamento, iluminação e comunicação interna", diz.
A distribuição das lojas também é pensada para estimular a
circulação dos visitantes por
todas as partes e evitar andares
ou regiões "mortas". Faggin explica que as lojas-âncoras, que
atraem mais pessoas, são posicionadas em pontos extremos,
para que o consumidor passe
por mais corredores.
Outra estratégia, cada vez
mais comum, é a de aproximar
a aparência interior dos shoppings com a das ruas. Quando
foram criados, os shoppings
eram um refúgio contra o caos
da cidade e as imprevisibilidades a que se está sujeito na rua.
Agora, shoppings como o Morumbi fazem reformas para a
criação de mais aberturas de
luz natural e de "pracinhas"
com bancos e plantas. "O shopping é uma cidade "fake" (falsa,
em inglês), um mundo ingênuo", diz Faggin.
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