São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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Tucanos iniciam contatos para fortalecer coligação e consolidar governador como líder do PSDB

Alckmin já articula apoios para o 2º turno

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
JULIA DUAILIBI

DA REPORTAGEM LOCAL

Certo de que disputará o segundo turno da eleição para o governo do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) já iniciou a busca de novos apoios políticos em torno de sua candidatura.
Na última semana, enquanto Alckmin mantinha um discurso moderado em relação ao segundo turno, líderes do PSDB intensificaram o contato com partidos que não compõem a coligação "São Paulo em Boas Mãos" (PSDB-PFL-PSD).
Além dos aliados de primeiro turno e com o provável apoio do PTB e do PPS, que com a verticalização das alianças não puderam coligar-se com o PSDB em São Paulo, o barco tucano remará, dependendo dos cenários, em busca do PT, do PMDB, do PSB e do PL.
Se de fato for ao segundo turno, o governador de 49 anos, herdeiro de Mário Covas porém sem a força política do líder tucano morto em março de 2001, terá de unir e posicionar seus correligionários não apenas conforme o próximo adversário -Paulo Maluf (PPB) ou José Genoino (PT)-, mas também tendo em vista a possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter sido eleito presidente.
Na avaliação do tucanato, se Alckmin conseguir montar uma aliança capaz de derrotar o malufismo ou a dupla Lula/Genoino, estará definitivamente cacifado como uma das principais lideranças do partido nacionalmente.
Alckmin se consolidaria então como um novo cacique do PSDB, junto com Aécio Neves, que tem uma influência nacional maior que o paulista e que deve ser eleito hoje governador de Minas Gerais.
Com Genoino como adversário, o temor tucano é que Lula, eleito, participaria de maneira mais intensa da campanha estadual. Fato ainda mais preocupante se for considerada a força de uma vitória do petista no primeiro turno.
Ainda com base nos cenários possíveis para o segundo turno, outro desafio seria atrair o PT, caso Genoino fique fora, para um apoio formal e reeditar a aliança "anti-Maluf", costurada por Covas e vencedora nas eleições para o governo em 1994 e 1998 e para a Prefeitura de São Paulo em 2000.
Nessa ocasião, Alckmin, derrotado na disputa, declarou apoio à candidatura de Marta Suplicy. Os tucanos planejam agora cobrar essa "dívida" do PT.
Mas se Lula tiver de disputar o segundo turno com José Serra (PSDB), os tucanos avaliam que será praticamente impossível a união com o PT, já que a eleição estadual, nesse caso, seria "federalizada", reeditando no Estado a disputa entre tucanos e petistas.
O PSDB teme que o PT libere seus militantes para apoiar Alckmin, mas pregue, às escuras, o voto em Maluf, que fala em uma frente "anti-tucana". Em troca da "neutralidade", o pepebista prometeria a Lula apoio informal nas eleições e num eventual governo.
Alckmin apoiou a candidatura Serra. No decorrer da campanha, pediu votos ao presidenciável, mas evitou colar sua imagem à do candidato ao Planalto.

Pragmatismo
É dentro desse complicado e indefinido jogo de forças que Alckmin, paulista de Pindamonhangaba e médico anestesista, terá de demonstrar a eficácia de fazer política com o seu jeito pragmático e "light". Política que exerceu como vereador e prefeito de sua cidade natal, aos 24 anos, antes de se tornar deputado estadual, duas vezes deputado federal e vice-governador de Covas.
Os três meses de campanha deixaram claro o estilo do tucano. Alckmin evitou aparecer nos jornais por meio de declarações polêmicas contra os adversários. Usou, como estratégia de marketing, a criação de factóides, que renderam imagens do governador catando lixo em escolas e trocando de terno no metrô.
O candidato foi cauteloso ao comentar as pesquisas de intenção de voto. "Eu não vou avaliar a hipótese de segundo turno enquanto não chegar lá", disse ele ontem, quando as sondagens o apontavam como o favorito.
Foi aos poucos e em silêncio que Alckmin construiu um leque de apoios dentro do PSDB paulista. Trabalho que começou quando ele foi presidente estadual do partido, no início dos anos 90.
Nessa época, o governador, à bordo de um Gol branco e na maioria das vezes acompanhado do então secretário-geral do partido, Edson Aparecido, percorria o Estado com o objetivo de organizar as bases do PSDB.
O trabalho fortaleceu Alckmin no interior, fator importante para gabaritá-lo como vice de Covas, em 1994 e 1998, resultado de uma composição interna do partido.
No governo com Covas, coube a Alckmin tocar o programa de desestatização. Para aliados, foi nessa época que ele tomou um conhecimento maior da situação das finanças do Estado.
Durante o tempo em que foi vice-governador, Alckmin sempre se reportou a Covas como "senhor". O governador, por sua vez, chamava-o de "Geraldinho".
Com a morte de Covas, Alckmin surgiu como o herdeiro político natural. Foi, devagar, imprimindo seu estilo à administração e formando um novo PSDB paulista: mais jovem, mais conservador e menos ideológico do que aquele formado por Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro e Sérgio Motta -os dois últimos mortos em 1999 e 1998, respectivamente.
Em janeiro deste ano, o governador passou pela fase mais difícil da consolidação de seu nome como candidato à reeleição. O assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), colocou em xeque a sua capacidade de resolver a criminalidade no Estado.
Uma forte campanha de marketing, que mostrava os investimentos do governo em segurança, e o uso de um discurso conservador, como o que chegou a defender o bordão malufista "Rota na rua", minimizaram a crise.

Defesa do governo
Em campanha, diferentemente de Serra, Alckmin assumiu sua condição inegável de governo, uma vez que busca a reeleição. Para os estrategistas do partido, esse fator, aliado ao legado de Covas, foi a causa do bom desempenho do tucano nas pesquisas.
Alckmin usou os 11min40s diários na TV, o maior tempo entre os candidatos, para defender pontos fracos de seu governo, como os altos índices de violência e os problemas com a progressão continuada na educação. Isso fez com que a rejeição ao candidato caísse, e a avaliação positiva do governo aumentasse, de acordo com pesquisas Datafolha.
O amplo tempo na TV só foi possível devido à coligação com o PFL, que condicionou o seu apoio à vaga de vice. O presidente estadual do PFL, Cláudio Lembo, foi indicado na véspera da convenção, que gerou crise no PSDB.



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