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AGENDA PETISTA
Governo quer inaugurar "segunda fase" com reforma ministerial
Pós-reformas, Lula pretende trocar "amigos" por eficiência
Sergio Lima/Folha Imagem
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FUTEBOL E CONTUSÃO Com a camisa do Corinthians, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega à Granja do Torto para participar de churrasco e de uma partida de futebol; no destaque, o presidente, que foi substituído no jogo após se contundir, coloca gelo no joelho
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O cenário pós-reforma traçado
por ministros e assessores do presidente indica que Luiz Inácio Lula da Silva terá de dar uma chacoalhada em seu governo, ser
mais agressivo nas políticas públicas e optar: ou fazer uma melhor
administração ou manter nos cargos amigos e velhos aliados que
não estão funcionando.
Essa opção teria de ficar clara na
reforma ministerial, planejada
para marcar uma "segunda fase"
do governo imediatamente após a
aprovação das reformas da Previdência e tributária no Congresso
Nacional. Antes disso, falar em
troca de ministros pode provocar
pressões e uma corrida por cargos, mais dificultando do que ajudando nas votações.
Essa mexida é considerada fundamental dentro do próprio governo, segundo a Folha apurou,
para montar uma equipe que seja
capaz de produzir melhores resultados em 2004.
Com isso, o governo quer tirar a
impressão generalizada, em seus
próprios centros de decisão e na
oposição, de que os ministérios
estão ""devagar". De quebra, consolidar um programa de governo
em 2005, preparando o terreno
para a reeleição em 2006.
Antes de pular para essa fase, o
governo começou na semana passada a sair da defensiva dos últimos meses, quando viu crescer o
desemprego e a crise social. Na
busca de produzir uma agenda
positiva, anunciou duas medidas
para reanimar a economia: a redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para automóveis e a queda do compulsório para os bancos.
Só que essas são medidas que
podem acabar tendo impacto limitado. O Planalto planeja também uma série de anúncios e
ações a partir desta semana, no
rastro da aprovação da reforma
da Previdência -considerada
"um marco" nos círculos palacianos. Os alvos são, principalmente,
habitação e saneamento, para dar
uma resposta às invasões de sem-teto; reforma agrária, para tentar
acalmar o MST e correlatos; e infra-estrutura, para suportar um
ritmo maior de crescimento ao
longo do governo.
Lula reúne amanhã, no Planalto, ministros e representantes do
BNDES, Banco do Brasil, Caixa
Econômica Federal e Petrobras
para acertar um pacote em infra-estrutura -transportes, energia e
comunicações.
Na semana passada, o ministro
dos Transportes, Anderson
Adauto, já se reuniu com o do Planejamento, Guido Mantega, para
acertar o aporte de recursos para
estradas, ferrovias e hidrovias,
neste e no próximo ano.
"São projetos estruturantes e as
propostas, apesar de realistas, são
expressivas", disse Mantega à Folha, sem falar em valores, mas
concordando com informação
obtida no Palácio do Planalto de
que um dos destinos do excedente do superávit primário será para
essa área. O acerto com o FMI
(Fundo Monetário Internacional)
era de um superávit de 4,25% do
PIB, mas o governo opera com
mais de 5%. A folga deverá ser
usada neste segundo semestre.
Um pacote na área de habitação
e saneamento é considerado estratégico, porque o governo quer
manter alguma marca de ""esquerda", amenizar a tensão urbana e gerar empregos.
A questão é reunir recursos. O
ministro Olívio Dutra (Cidades)
entregou seu planos na quarta-feira passada para José Dirceu
(Casa Civil) e aguarda o aval de
Lula nesta semana.
Em resumo, são o Pró-Moradia
e o Morar Melhor. Um depende
de uma excepcionalidade, para
quebrar o limite de R$ 200 milhões em financiamentos determinado pelo CMN (Conselho
Monetário Nacional) para o conjunto do setor público. O segundo
precisa de liberação de verbas bloqueadas do Orçamento.
Reforma agrária
A terceira frente, a ser anunciada ainda nesta semana, é a reforma agrária -que Lula trata como
prioridade. O governo identificou
700 mil hectares disponíveis de
terras públicas da União, o que é
metade do necessário para assentamento de 60 mil famílias a partir
deste ano. Os terrenos deverão ser
menores, "mas melhores e mais
bem localizados", diz Mantega.
Enquanto ganha tempo e anuncia medidas pontuais e limitadas,
o governo espera ter condições de
se planejar para sua segunda fase,
após a aprovação das reformas. O
fraco desempenho de alguns ministros é um dos problemas a serem enfrentados.
Até aqui, avaliam assessores do
presidente, a ineficiência de algumas áreas do governo não chegou
a comprometer por causa da crise
econômica: o país não crescerá
mais do que 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano e, no
próximo, a expectativa, vista com
reservas pelo mercado, é de um
crescimento de 3%.
Na avaliação da equipe econômica, um crescimento desse porte
não provoca transtornos na economia. O país tem infra-estrutura
razoável para aguentar sem sustos
esse ritmo. Ou seja, a ausência de
grandes ações do governo não
chega a ser um empecilho para o
país crescer 3% ao ano.
Em 2005, porém, a expectativa
do governo é chegar a uma taxa
de crescimento de 4% do PIB. Hoje, na avaliação da equipe econômica, o país não suportaria crescer a uma taxa superior a 4% sem
produzir inflação e descontrole
das contas públicas.
Então, é preciso preparar o país
para voltar a crescer a taxas mais
elevadas. Se isso não for feito, em
2006 o país pode enfrentar uma
nova crise econômica e não terá
condições de manter pelo menos
um ritmo de desenvolvimento de
4%. Seria péssimo na avaliação do
governo, afinal é o ano da eleição
presidencial, com Lula provavelmente disputando a reeleição.
Logicamente, isso tudo é condicionado à manutenção de um certo equilíbrio macroeconômico e
aos humores do mercado internacional -uma crise mais grave pode acabar com quaisquer planos.
Um auxiliar do presidente diz
que o governo Lula não pode repetir os erros da administração
tucana, quando ocorreram surtos
de aquecimento da economia,
não de crescimento. O ano de
2000 é citado como exemplo,
quando o país cresceu 4,5%. No
seguinte, veio a crise energética e
o país ficou estagnado.
Lula, até agora, tem demonstrado insatisfação especialmente
com o grupo de ministros que é
historicamente mais próximo a
ele, mas sem sinalizar que pretende abrir mão deles.
Segundo assessores, o melhor
caminho seria a "tradicional queda para cima": sacar da Esplanada
ministros como José Graziano
(Fome Zero), Benedita da Silva
(Promoção Social) e Miro Teixeira (Comunicações), alojando-os
em outros postos federais. Ou estimular candidaturas às prefeituras no ano que vem.
Segundo um auxiliar de Lula,
para muitos ministros petistas ou
aliados "ainda não caiu a ficha de
que, agora, são governo". Fazem
reuniões em demasia, demoram a
tomar decisões e, quando o fazem, nem sempre são factíveis
nem estão conectadas com uma
linha de governo. O discurso ainda é o de palanque, de teses, de
princípios. O chamado núcleo
duro do governo quer mais ação.
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