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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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CÂMARA OCULTA

Motorista se diz coordenador político de João Paulo Cunha em Osasco, mas só vai à Casa "de vez em quando"

Direção da Câmara tem assessores em Osasco

JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Foi com um cartão de visitas com o brasão da Câmara dos Deputados e com a inscrição "assessor da presidência" que Valdir Pereira Roque, 39, recebeu a reportagem no escritório político do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), inaugurado há dois meses em Osasco (Grande São Paulo).
Roque afirma que conhece o presidente da Câmara há 13 anos e começou a prestar serviços ao político paulista como motorista.
"Hoje eu tenho uma grande responsabilidade. Fui crescendo junto com o deputado, mas continuo dirigindo para ele, às vezes. Gosto de dirigir para ele quando ele vem de Brasília", disse.
Roque se define como "coordenador político" do PT e do deputado paulista em São Paulo.
"Meu trabalho aqui é político. De organização política. Temos a responsabilidade de organizar o partido no Estado. Seja em Osasco, seja em São José do Rio Preto. Em todos esses lugares, há gente que votou no João Paulo."
O assessor da presidência, que diz ir a Brasília "de vez em quando", foi nomeado em fevereiro. O cargo que ocupa dá direito a salário de R$ 7.428,77. Segundo suas próprias palavras, ele não tem nenhuma relação com a rotina de trabalho do setor de onde é efetivamente funcionário.
"Minha rotina é aqui em Osasco. Mas eu vou de vez em quando a Brasília para encaminhar algumas questões do gabinete, para ajudar no gabinete. Vou mais para fazer encaminhamentos burocráticos. Com os trabalhos da presidência, eu não tenho ligação."
No mesmo escritório, estava Antônio Onofre França de Queiros, 45, que desde 1992 trabalha com João Paulo Cunha.
"Eu sempre atuei nos movimentos sociais, em sindicatos. Conheci o deputado e começamos a trabalhar juntos", disse.
Queiros também não desenvolve atividades para a presidência da Câmara. Ele afirmou que está mais envolvido com atividades sociais e de representação política do deputado.
"O nosso trabalho é um pouquinho de tudo. Desenvolvemos um trabalho grande de representação do João Paulo em Osasco e na região. Representamos, por exemplo, em uma festa, em uma atividade política, em uma cerimônia religiosa..."
Quando questionado se teria que viajar a Brasília para desenvolver alguma função, Queiros disse: "Não vou a Brasília. Meu trabalho é aqui na região. Quando ele [João Paulo] vem pra cá [Osasco], ele passa as informações para a gente".

Filho de Paim
Outro funcionário nomeado por João Paulo Cunha na presidência da Câmara foi Jean Cristian Paim, filho do senador Paulo Paim (PT-RS), com um salário de R$ 3.610,43. Apesar de formalmente vinculado à Câmara nos últimos quatro meses, ele estudava e estuda direito em uma universidade de São Leopoldo (33 km de Porto Alegre).
A Agência Folha deixou recados para Jean Cristian de quarta a sexta-feira, mas ele não respondeu.
Segundo o senador Paim, o filho foi exonerado na semana passada. Ele afirmou que Jean "prestava assessoria para projetos" da presidência. De acordo com Paim, o filho desistiu do trabalho porque perdia muitas aulas e gastava muito com passagens aéreas.
"Ele tinha que estar indo e voltando [a Brasília]. Gastava mais com passagens do que [ganhava]...", disse o senador.



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