São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007

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Militares mantêm restrições a ministério

Para oficiais, independentemente do nome, civis desconhecem o que fazer para modernizar o setor

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

A área militar reagiu à troca do ministro da Defesa com um misto de alívio, pela saída de Waldir Pires, e de indiferença, pela entrada de Nelson Jobim. Em resumo, oficiais ouvidos pela Folha acham que pior do que estava não vai ficar, mas ainda assim sem entusiasmo.
Conforme a reportagem apurou, a crise aérea e as sucessivas trocas de ministros da pasta, desde o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso (1999-2003), aguçaram a rejeição entre os militares ao Ministério da Defesa. Em geral, eles dizem que o problema não é o ministro, mas o ministério.
Na realidade, segundo eles, há um comandante-em-chefe, que é o presidente da República, e um comandante para cada Força -Aeronáutica, Marinha e Exército-, sem espaço para o ministro. Tanto que as fotos nos gabinetes são de Lula e de cada comandante. Não há fotos de Waldir Pires, como não haverá de Jobim.
Na versão deles, qualquer civil, seja Waldir Pires, seja Jobim (que já fez palestras em cursos para oficiais) não se interessou e não estudou a complexa área de Defesa e, por isso, não entende o que é preciso para modernizar o setor.
O novo ministro não desconhece essa crítica, ou temor, tanto que foi enfático na primeira entrevista coletiva, ontem mesmo, no Planalto, ao mandar dois recados muito diretos às Forças Armadas.
"Estamos com problema de comando, e isso [o comando] agora vai ter." Em seguida, admitiu que não entende de defesa, mas fez referência indireta ao governador de São Paulo, o tucano José Serra, seu amigo ex-ministro da Saúde no governo FHC, ao dizer que o país já teve "um ministro da Saúde que não entendia nada de saúde e foi um grande ministro".
Em relação a Jobim, oficiais ouvidos pela Folha destacaram algumas vantagens de personalidade e de força política em relação ao ministro que está saindo: ex-ministro da Justiça no governo FHC e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Jobim tem mais "apetite" pelo poder, mais firmeza e será mais ouvido por Lula.
Além disso, tem a vantagem de não ter o carimbo de "esquerdista que lutou contra a ditadura militar" como outros cogitados, especialmente Aldo Rebelo, que é do PC do B. Também foi considerado melhor opção do que o atual ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, bancário que entrou na política pela via sindical.
A expectativa dos militares em relação a Jobim tem dois momentos. Num primeiro, que restabeleça uma certa organização no setor aéreo, para dar uma resposta rápida à população. Num segundo, que tenha força suficiente para arrancar verbas do Planalto e da área econômica para os projetos mais caros às três Forças.
O único deles citado especificamente por Lula ontem foi o do submarino atômico da Marinha. Mas há na fila também renovação de frota da Aeronáutica e de equipamentos do Exército.


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