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Militares mantêm restrições a ministério
Para oficiais, independentemente do nome, civis desconhecem o que fazer para modernizar o setor
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
A área militar reagiu à troca
do ministro da Defesa com um
misto de alívio, pela saída de
Waldir Pires, e de indiferença,
pela entrada de Nelson Jobim.
Em resumo, oficiais ouvidos
pela Folha acham que pior do
que estava não vai ficar, mas
ainda assim sem entusiasmo.
Conforme a reportagem apurou, a crise aérea e as sucessivas trocas de ministros da pasta, desde o segundo governo de
Fernando Henrique Cardoso
(1999-2003), aguçaram a rejeição entre os militares ao Ministério da Defesa. Em geral, eles
dizem que o problema não é o
ministro, mas o ministério.
Na realidade, segundo eles,
há um comandante-em-chefe,
que é o presidente da República, e um comandante para cada
Força -Aeronáutica, Marinha
e Exército-, sem espaço para o
ministro. Tanto que as fotos
nos gabinetes são de Lula e de
cada comandante. Não há fotos
de Waldir Pires, como não haverá de Jobim.
Na versão deles, qualquer civil, seja Waldir Pires, seja Jobim (que já fez palestras em
cursos para oficiais) não se interessou e não estudou a complexa área de Defesa e, por isso,
não entende o que é preciso para modernizar o setor.
O novo ministro não desconhece essa crítica, ou temor,
tanto que foi enfático na primeira entrevista coletiva, ontem mesmo, no Planalto, ao
mandar dois recados muito diretos às Forças Armadas.
"Estamos com problema de
comando, e isso [o comando]
agora vai ter." Em seguida, admitiu que não entende de defesa, mas fez referência indireta
ao governador de São Paulo, o
tucano José Serra, seu amigo
ex-ministro da Saúde no governo FHC, ao dizer que o país já
teve "um ministro da Saúde
que não entendia nada de saúde e foi um grande ministro".
Em relação a Jobim, oficiais
ouvidos pela Folha destacaram algumas vantagens de personalidade e de força política
em relação ao ministro que está saindo: ex-ministro da Justiça no governo FHC e ex-presidente do Supremo Tribunal
Federal, Jobim tem mais "apetite" pelo poder, mais firmeza e
será mais ouvido por Lula.
Além disso, tem a vantagem
de não ter o carimbo de "esquerdista que lutou contra a ditadura militar" como outros
cogitados, especialmente Aldo
Rebelo, que é do PC do B. Também foi considerado melhor
opção do que o atual ministro
do Planejamento, Paulo Bernardo, bancário que entrou na
política pela via sindical.
A expectativa dos militares
em relação a Jobim tem dois
momentos. Num primeiro, que
restabeleça uma certa organização no setor aéreo, para dar
uma resposta rápida à população. Num segundo, que tenha
força suficiente para arrancar
verbas do Planalto e da área
econômica para os projetos
mais caros às três Forças.
O único deles citado especificamente por Lula ontem foi o
do submarino atômico da Marinha. Mas há na fila também
renovação de frota da Aeronáutica e de equipamentos do
Exército.
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