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SOMBRA NO PLANALTO
Principais partidos da situação e da oposição usam seus sites para noticiar os mesmos fatos, mas de formas totalmente diferentes
Petistas e tucanos travam batalha de versões na internet
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
O bate-boca entre a base do governo e a oposição não se restringe mais aos plenários do Congresso e às declarações que saem na
imprensa. Os partidos ampliaram
o campo de batalha também para
a internet, em seus próprios sites.
Quem fica no meio dessa batalha virtual é bombardeado por
versões as mais díspares possíveis
(leia quadro ao lado). O caso Waldomiro Diniz é um bom exemplo.
Logo na sexta-feira em que o escândalo envolvendo o ex-subchefe da Presidência veio à tona, o site
do PT estampou a seguinte manchete: "Genoino: PT não compartilha com corrupção".
O PSDB não perdeu tempo.
Usou seu site para cumprir o papel de oposição: "Resvala no cinismo a afirmação dos petistas de
que o governo já fez tudo que tinha que fazer, demitiu o Waldomiro e abriu inquérito para apurar o caso da propina".
Com ironia, o partido tucano
completou: "Se Dirceu teve alguma iniciativa contra a corrupção,
não se sabe. Sabe-se, porém, que
foi dele a indicação de Waldomiro
Diniz para ser subchefe de a$$untos parlamentare$ [sic]. A propósito, se Waldomiro era o subchefe, quem era o chefe?".
A resposta dos petistas, em tempo real: "O presidente do PT, José
Genoino, disse que os tucanos
querem esticar a disputa de 2002
para as eleições municipais e por
isso requentaram a denúncia".
Essa batalha da informação é
alimentada por versões apresentadas como se fossem notícia jornalística. As páginas do PT e do
PSDB têm até uma sessão de "últimas notícias", imitando os grandes sites que transmitem os acontecimentos em tempo real.
Se quiserem, os militantes nem
precisam acessar os sites. Todos
os dias, o PT envia o informativo
on-line "Linha Aberta" para 113
mil cadastrados. O PSDB faz o
mesmo com o "Diário Tucano" e
o "Boletim Tucano", que chegam
a 10 mil computadores.
Os sites se pautam pelos mesmos assuntos do dia-a-dia político. Anteontem, por exemplo, PT e
PSDB deram destaque à interinidade do deputado João Paulo Cunha na Presidência da República.
Os petistas não comentaram
muito: "O presidente da Câmara,
João Paulo Cunha (PT-SP), assumiu a Presidência da República
na tarde desta quinta-feira até a
noite de sábado". Já os tucanos:
"Aonde chegamos? João Paulo
Cunha assumiu e o máximo que
conseguiu dizer até agora foi que
estamos na Quaresma e que o
momento exige reflexão".
"Bom jornalismo"
No caso do PT, as informações
saem de São Paulo, do trabalho de
cinco jornalistas. O PSDB mantém uma equipe de cinco pessoas
na sede do partido, em Brasília, e
dois jornalistas no Congresso.
Ao comentar o quanto seus sites
são imparciais, os responsáveis
pelo departamento de comunicação repetem o mesmo discurso.
"A orientação principal é manter o compromisso com a verdade, como manda o jornalismo
profissional", diz Sílvio Pereira,
do Partido dos Trabalhadores.
"Não pode inventar nem distorcer a realidade. É preciso ater-se
aos fatos para que o leitor tire sua
própria conclusão", confirma José Natal, do PSDB.
"Jornalismo partidário é jornalismo parcial", esclarece o professor Adolpho Queiroz, do programa de pós-graduação da Universidade Metodista de São Paulo,
especializado em comunicação
política. "Os partidos só mostram
aquilo que lhes interessa."
Por isso, diz o professor, as notícias dos partidos não devem ser
tomadas como jornalismo, mas
como marketing. "No discurso
partidário, o fato não é mostrado
com todas as suas versões, como
manda o jornalismo. Isso é perigoso porque quem lê pode imaginar que aquela seja a única versão", completa ele.
A internet foi descoberta pelos
políticos brasileiros em meados
dos anos 90. Mas, para Queiroz, a
maioria dos partidos ainda não se
deu conta do poder da internet
-petistas e tucanos são exceções.
"Os partidos deveriam perceber
que podem transmitir seus conteúdos ideológicos para o país inteiro a custo praticamente zero e
numa velocidade que há dez anos
era impensável", aconselha.
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