|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para advogado, Igreja Católica não deve impor dogmas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O advogado Luís Roberto
Barroso, que defende a liberação das pesquisas com células-tronco e representa a ONG Movitae na ação a ser julgada hoje
em Brasília, diz que a Igreja Católica tem todo o direito de se
manifestar, mas não pode impor o seu ponto de vista.
"Queremos que seja um debate, não uma imposição de
dogmas no âmbito do espaço
público", afirma.
Para o advogado, do ponto de
vista técnico, também não existe como substituir os estudos
com células-tronco embrionárias humanas pelas adultas.
(SF)
FOLHA - Qual é a sua expectativa
de resultado do julgamento?
LUÍS ROBERTO BARROSO - Advogado não faz prognóstico de julgamento. É sempre uma imprudência, mas a minha expectativa é positiva. Acho que o direito
defendido pelos cientistas é legítimo, inquestionável, protegido pela Constituição. Por isso, a tendência seria o STF (Supremo Tribunal Federal) majoritariamente confirmar a constitucionalidade da lei que permite as pesquisas com células-tronco embrionárias.
FOLHA - A ação opõe a comunidade
científica à Igreja Católica? O senhor
teme que a pressão da igreja ou o
sentimento religioso dos ministros
interfira no julgamento?
BARROSO - Não acho a rigor que
haja uma oposição entre cientistas e a igreja. Acho que a
Igreja Católica, uma instituição
milenar, tem o direito, tem o
dever de se manifestar no espaço público, acerca de suas crenças, de seus dogmas. O que naturalmente não deve prevalecer é a imposição de crenças religiosas, dentro de um Estado
democrático de Direito, por excelência laico, baseado em valores morais, filosóficos, mas não
em valores religiosos. A religião
tem espaço muito importante
na vida das pessoas, mas um espaço da vida privada. Na vida
pública, deve prevalecer o que
se denomina razão pública, que
são os argumentos que não pertencem a nenhuma doutrina,
mas podem ser compartilhados
por todas as pessoas. Ninguém
quer excluir a igreja católica do
debate. Queremos apenas que
seja um debate. Não uma imposição de dogmas no âmbito do
espaço público.
FOLHA - Os defensores dessa ação
dizem que é possível fazer a pesquisa com células "adultas", não de
embriões. Por que então não priorizar essa linha de pesquisa, que é menos polêmica?
BARROSO - A professora Mayana
Zatz, que coordena os cientistas que eu represento na ação
(Movitae), afirma que essa proposição não é correta. Ela diz
que as células-tronco adultas,
no estágio atual das pesquisas,
não são capazes de suprir todas
as demandas que são atendidas
pelas pesquisas com as embrionárias, especialmente em relação às células nervosas. Esse é
um aspecto técnico. A comunidade científica afirma de maneira peremptória que não é
possível fazer com células-tronco adultas o que é possível
fazer com as embrionárias.
Texto Anterior: Lei foi aprovada de forma "ardilosa", diz ex-procurador Próximo Texto: Julgamento sobre células-tronco pode ser interrompido Índice
|