São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ENTREVISTA

Antidepressivo é testado em "normal"

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas de São Paulo retomou uma pesquisa com doses baixas do antidepressivo clomipramina em pessoas "normais". O estudo, pioneiro no mundo, causou uma corrida de interessados há cerca de seis anos.
Em 1996, apenas dez voluntários foram recrutados e todos relataram melhora em suas vidas no período em que tomaram a droga, diz a psicofarmacologista Clarice Gorenstein, 51. Os interessados devem ter entre 21 e 50 anos, não ter diagnóstico psiquiátrico ou doença, ter o primeiro grau completo e morar em São Paulo. Informações: 0/xx/11/ 3069-6978.

Folha - De onde surgiu a idéia?
Clarice Gorenstein
- Em 1985 foi feito um estudo sobre síndrome do pânico com a aplicação do antidepressivo aqui no Brasil. As pessoas se sentiam melhor do que já tinham se sentido. Como ele estaria fazendo a regulação emocional de forma que essas pessoas passassem a "funcionar" melhor? Se fôssemos testar em pessoas doentes, poderia haver interferência. Elas poderiam estar melhorando dos sintomas e por isso estarem melhores em tudo. Então testamos em normais.

Folha - Qual foi o resultado?
Clarice
- Foi muito difícil encontrar voluntários. Mas os resultados foram consistentes. Eles tinham menor ansiedade, menor irritabilidade, mais concentração.

Folha - O que será investigado agora?
Clarice
- Verificaremos se há efeito sobre o poder de decisão, personalidade, grau de tolerância, sono e apetite.

Folha - O medicamento poderá ser indicado para pessoas que não têm doença psiquiátrica ?
Clarice
- Nosso objetivo não é esse. Não se trata também de descobrir a droga da felicidade, mas sim de estudar os mecanismos de regulação emocional que podem vir a ser úteis para pessoas que realmente precisem do remédio. Existem trabalhos na área de genética que identificam as pessoas mais predispostas [às doenças psiquiátricas]. Talvez para elas possa haver aplicação. Mas é precipitado pensar nisso.


Texto Anterior: Injeções de remédio devem ser limitadas
Próximo Texto: Plantão médico - Julio Abramczyk: A história sobre o roubo de uma teoria na medicina
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.