São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Como jogar emprego fora
Está nas mãos do ministro
do Trabalho, Jacques Wagner, a possibilidade de lançar o
mais amplo programa de que se
tem notícia para a juventude brasileira de 17 a 21 anos -o que, a
médio e longo prazo, tanto ou
mais do que o investimento em
repressão, ajudaria a combater a
criminalidade com eficiência.
O objetivo do projeto é irretocável. O Brasil sofre uma crise de
empregos, cujas maiores vítimas,
a julgar pelas estatísticas, são os
jovens, principalmente de baixa
escolaridade. É, portanto, obviamente necessário que se criem vagas, transformando-as em oportunidades de profissionalização.
A produção de conhecimento está cada vez mais veloz e exige reciclagem permanente -essa é
outra obviedade. Sem uma base
educacional capaz de estimular a
autonomia de pesquisa, a capacidade de associar idéias e informações, a expressão e a aprendizagem contínua, o jovem até consegue um emprego, mas está ameaçado de perdê-lo rapidamente.
Ao lado das habilidades cognitivas -o saber-, os projetos com
melhores resultados investem solidamente no aprender a ser e no
aprender a conviver. Ou seja, discute-se com o educando quem ele
é e de onde vem. Com base nisso,
ele é convidado a traçar um projeto de vida, identificando-se com
uma perspectiva. Aprende a se relacionar com o outro, a respeitar e
a negociar, condições indispensáveis para o trabalho em equipe.
Englobar as habilidades de ser,
de saber, de fazer e de aprender é
o que podemos chamar de proporcionar educação integral. É
claro que isso não é fácil. Mas
muita gente, dentro e fora do governo, tem amargado decepções
por não fazer ações articuladas.
São pessoas que fazem projetos
"bonitinhos", ganham as luzes da
mídia e iludem, mas que, por falta de método, não fincam raízes.
Muitas ONGs viram seu esforço
desperdiçado ao tentarem entrar
na rede pública com propostas experimentais, que, por falta de articulação, não trouxeram bons
resultados, ou ao desenvolverem
projetos com ênfase só no fazer,
ou seja, na formação profissional.
O óbvio dos óbvios é que a ofensiva para gerar empregos precisa
ter o Ministério do Trabalho como uma de suas partes, mas deve,
necessariamente, caso não queira
ser apenas uma jogada de marketing, abranger, nos mais variados
níveis, os responsáveis pelas políticas de educação, de saúde e de
assistência social.
PS - A experiência, em escala
pública, mais instigante que conheço vem sendo realizada pela
Secretaria Municipal do Trabalho de São Paulo. Para promover
o jovem, articulam-se os recursos
federais com os estaduais. Concede-se a ele uma bolsa em contrapartida à sua participação em
atividades comunitárias, educacionais ou de formação profissional. O ponto mais importante do
projeto -ainda em fase de teste- é a montagem, em parceria
com outras secretarias, universidades e ONGs, de um currículo
básico com os passos para atingir
uma educação integral. |
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