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"Valor de terreno no centro é proibitivo"
DA REPORTAGEM LOCAL
O economista Barjas Negri, 52,
secretário estadual da Habitação e
presidente da CDHU, diz que o
valor do terreno dos prédios no
centro da cidade é "proibitivo"
para as famílias mais pobres. Por
isso, ele defende a construção na
periferia.
Folha - Por que a CDHU privilegia
a periferia quando há 40 mil imóveis vagos no centro de São Paulo?
Barjas Negri - Você tem dois organismos que fazem o financiamento com certo peso: a Caixa
Econômica Federal, que trabalha
com recursos do FGTS e do FAT,
e a CDHU, que trabalha com recursos do ICMS. A CDHU tem
uma política voltada para as famílias que ganham até três salários
mínimos. Se você fizer uma política para a área central, você pode
revitalizar a região, mas vai excluir as famílias que ganham de
um a três salários mínimos.
Folha - Por quê?
Negri - O valor do terreno na
área central é proibitivo. A terra é
mais barata num lugar afastado.
Folha - Mas essa conta é de curto
prazo. Na área afastada, o Estado
tem de levar água, ônibus, escola,
luz. A CDHU já fez essa conta?
Negri - Não, precisaria medir. A
CDHU tem um projeto de cortiços na área central, de 2.000 a
3.000 novas moradias por meio
de reformas e ampliações.
Folha - Não é muito tímido?
Negri - É claro, mas os recursos à
disposição do setor público para a
questão habitacional são tímidos.
Folha - Mas, nos últimos dez
anos, a CDHU teve um orçamento
anual de R$ 600 milhões, R$ 700
milhões. Ignorar o centro não contraria o discurso do governador
Alckmin em defesa da região?
Negri - Não é assim. Para atingir
as famílias de um a três salários
mínimos, você precisa de subsídio compartilhado. O que nós fazemos? A prefeitura adquire o terreno, dá a área como subsídio aos
moradores e nós organizamos
um mutirão. Na periferia de São
Paulo, você tem uma certa organização. Hoje, fazemos 14.309 unidades em regime de mutirão, que
é a forma de rebaixar o valor para
que as famílias possam pagar.
Folha - Qual o custo unitário de
um mutirão desses para a CDHU?
Negri - De R$ 18 mil a R$ 22 mil.
Folha - E a reforma de um apartamento no centro?
Negri - Passaria de R$ 30 mil. O
subsídio seria muito grande.
Folha - E o programa do presidente Lula, que prevê parcerias entre
prefeituras, Estado e União.
Negri - Demora muito, mas é o
caminho.
Folha - O senhor acha que dá para
requalificar o centro de São Paulo
sem a ocupação desses imóveis?
Negri - Não. Você tem de fazer
um trabalho de revitalização utilizando moradia. As experiências
internacionais mostram que não
se faz isso em quatro ou cinco
anos. Na França, eles estão trabalhando em revitalização de áreas
centrais há 20 anos. Não dá para,
de repente, a CDHU reformar 10
mil imóveis na área central.
Folha - O movimento dos sem-teto diz que a CDHU, seguindo uma
lógica eleitoral, privilegia a construção fora da capital
Negri - É uma desinformação,
para não dizer outra coisa. Eu tive
um debate com a prefeita Marta
Suplicy pelos jornais, já que ela fez
a mesma afirmativa. A CDHU
tem hoje contratadas 70 mil unidades -35 mil estão no interior e
35 mil na região metropolitana.
Na capital, são 19.571.
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