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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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"Valor de terreno no centro é proibitivo"

DA REPORTAGEM LOCAL

O economista Barjas Negri, 52, secretário estadual da Habitação e presidente da CDHU, diz que o valor do terreno dos prédios no centro da cidade é "proibitivo" para as famílias mais pobres. Por isso, ele defende a construção na periferia.

Folha - Por que a CDHU privilegia a periferia quando há 40 mil imóveis vagos no centro de São Paulo?
Barjas Negri -
Você tem dois organismos que fazem o financiamento com certo peso: a Caixa Econômica Federal, que trabalha com recursos do FGTS e do FAT, e a CDHU, que trabalha com recursos do ICMS. A CDHU tem uma política voltada para as famílias que ganham até três salários mínimos. Se você fizer uma política para a área central, você pode revitalizar a região, mas vai excluir as famílias que ganham de um a três salários mínimos.

Folha - Por quê?
Negri -
O valor do terreno na área central é proibitivo. A terra é mais barata num lugar afastado.

Folha - Mas essa conta é de curto prazo. Na área afastada, o Estado tem de levar água, ônibus, escola, luz. A CDHU já fez essa conta?
Negri -
Não, precisaria medir. A CDHU tem um projeto de cortiços na área central, de 2.000 a 3.000 novas moradias por meio de reformas e ampliações.

Folha - Não é muito tímido?
Negri -
É claro, mas os recursos à disposição do setor público para a questão habitacional são tímidos.

Folha - Mas, nos últimos dez anos, a CDHU teve um orçamento anual de R$ 600 milhões, R$ 700 milhões. Ignorar o centro não contraria o discurso do governador Alckmin em defesa da região?
Negri -
Não é assim. Para atingir as famílias de um a três salários mínimos, você precisa de subsídio compartilhado. O que nós fazemos? A prefeitura adquire o terreno, dá a área como subsídio aos moradores e nós organizamos um mutirão. Na periferia de São Paulo, você tem uma certa organização. Hoje, fazemos 14.309 unidades em regime de mutirão, que é a forma de rebaixar o valor para que as famílias possam pagar.

Folha - Qual o custo unitário de um mutirão desses para a CDHU?
Negri -
De R$ 18 mil a R$ 22 mil.

Folha - E a reforma de um apartamento no centro?
Negri -
Passaria de R$ 30 mil. O subsídio seria muito grande.

Folha - E o programa do presidente Lula, que prevê parcerias entre prefeituras, Estado e União.
Negri -
Demora muito, mas é o caminho.

Folha - O senhor acha que dá para requalificar o centro de São Paulo sem a ocupação desses imóveis?
Negri -
Não. Você tem de fazer um trabalho de revitalização utilizando moradia. As experiências internacionais mostram que não se faz isso em quatro ou cinco anos. Na França, eles estão trabalhando em revitalização de áreas centrais há 20 anos. Não dá para, de repente, a CDHU reformar 10 mil imóveis na área central.

Folha - O movimento dos sem-teto diz que a CDHU, seguindo uma lógica eleitoral, privilegia a construção fora da capital
Negri -
É uma desinformação, para não dizer outra coisa. Eu tive um debate com a prefeita Marta Suplicy pelos jornais, já que ela fez a mesma afirmativa. A CDHU tem hoje contratadas 70 mil unidades -35 mil estão no interior e 35 mil na região metropolitana. Na capital, são 19.571.

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